São Paulo, domingo, 3 de dezembro de 1995
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"Encontrei o elixir da juventude"

"Se um dia você sentir uma vontade irresistível de pular de pára-quedas, espante a covardia e salte. O pára-quedas sempre abre."
Fábio, 52, empresário
Sou capaz de apostar que, naquela época, não havia sujeito mais pacato do que eu. Estava com 42 anos, mas aparentava menos. Não tinha barriga e conservava uma musculatura sutilmente definida, fruto de muito esporte. Poderia, fácil, fácil, bancar o tipo sedutor, bonitão, que caça menininhas pelas ruas.
Só que não bancava. Casado há 18 anos, três filhas, vivia em paz com Sônia, minha mulher -uma assistente social que acabara de entrar na faixa dos 40. Gostava dela e procurava me manter fiel.
Uma tarde, o cupido nos traiu. Fazia ginástica num clube de São Paulo quando vi Maria Alice. Era bonita e jovem -27 aninhos, soube por um amigo. Sorri. Ela retribuiu. Não tive dúvidas: me aproximei.
Jamais, desde que conhecera Sônia, ousara nada parecido. Ainda que desajeitado, me saí bem na aproximação. Em uma semana, nos encontramos de novo e ela confessou que era casada. Não dei importância.
Iniciamos um romance cinematográfico. Só nos víamos em situações glamourosas, completamente fora da realidade: música, champanhe, motéis cinco estrelas.
Fiquei apaixonadíssimo. O interesse de Maria Alice por mim surtiu o efeito de um bálsamo rejuvenescedor. Não me considerava velho, mas precisava de uma confirmação, de algo que me dissesse: é verdade, cara, você ainda tem muita vida pela frente.
Aquela paixão inesperada também me revelou que já não achava Sônia tão bonita. Já não gostava de tocá-la, de observá-la, de namorá-la.
Sustentei o romance extraconjugal por um ano, sempre em absoluto segredo. Hoje sei que foram meses difíceis. Mesclava momentos de profunda alegria com espasmos de culpa, angústia e medo.
Temia que Sônia descobrisse a traição. Na minha cabeça, um eventual divórcio significaria a perda de tudo o que conquistara ao longo de quase duas décadas: as filhas me rejeitariam, os amigos virariam as costas, os sócios deixariam de confiar em mim. Foi principalmente o medo que me fez romper com Maria Alice.
Permaneci casado por mais cinco anos. Lutei para que as coisas voltassem ao normal. Não voltaram. Algo quebrara dentro de mim. A necessidade de renovação se impôs e pedi o divórcio.
Fui morar sozinho em um flat. Passei noites chorando, me perguntando se não estava maluco. Que força brutal me movia?
Nunca encontrei a resposta exata. Mas não me arrependo do que fiz. Acabei reconstruindo minha vida. Conquistei novos amigos, ganhei energia para trabalhar, descobri que minha família não precisa tanto de mim e arrumei outra namorada, 18 anos mais jovem.
Já não sou homem de acreditar em moral da história. Mesmo assim, lá vai: se um dia você sentir uma vontade irresistível de pular de pára-quedas, espante a covardia e salte. O pára-quedas sempre abre.

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