São Paulo, segunda-feira, 4 de dezembro de 1995
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Não há consenso entre os médicos brasileiros

ROGERIO WASSERMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

As discussões a respeito do "Efeito Nocebo" ainda não são comuns entre os médicos brasileiros. Mesmo assim, o tema causa polêmica. A Folha ouviu cinco médicos, com opiniões que variam do ceticismo ao total apoio às teorias que relacionam o pessimismo à ocorrência de doenças.
Para o cardiologista Maurício Wajngarten, 47, a maior incidência de mortes por doenças do coração entre os pessimistas poderia ser atribuída à utilização de medicamentos antidepressivos, que podem provocar arritmias cardíacas.
Wajngarten acredita que exista uma associação entre a ocorrência da depressão e de doenças do coração, mas que a relação não é direta. "Pessoas preocupadas têm um aumento na função do sistema nervoso simpático, responsável pelo controle da pressão sanguínea e pela descarga de adrenalina, o que pode levar a um infarto súbito."
O oncologista Sérgio Simon diz que a associação entre o pessimismo e o aparecimento de cânceres não é científica. "Nada disso é provado", afirma.
Simon acredita, entretanto, que o pessimismo exerça influências no tratamento, porque o paciente pessimista se nega a cumpri-lo.
Para o também oncologista Cláudio Petrilli, 48, existe no senso comum a crença de que o aparecimento de um câncer ocorre quando a pessoa tem problemas pessoais, com família ou negócios.
"Ainda não existe estudo científico que comprove a relação, mas a impressão é de que o sistema imunológico do pessimista é mais deficiente", afirma.
Para ele, o acompanhamento psicológico de doentes é importante. "Existem grupos de apoio para doentes com câncer, Aids, Parkinson, diabetes etc., que ensinam o paciente a lidar com a doença, diminuindo o fator depressivo."
O neurologista Daniele Riva, 53, descarta qualquer relação direta entre o pessimismo e a aparição de doenças. "Todas as doenças que ocorrem no ser humano, inclusive os tumores, ocorrem também nos animais irracionais, sem que se possa relacioná-las à depressão", afirma.
Para ele, existem dificuldades para comprovar cientificamente a relação. "Primeiro temos que definir o que é pessimismo e otimismo, que são conceitos leigos."
"Estas teorias vêm sendo estudados há décadas pela medicina psicossomática, mas até hoje não há provas científicas", afirma.
O conceito do "Efeito Nocebo" faz sentido, na opinião do psiquiatra Pedro Mascarenhas, 47. "Um pessimista não vê muito futuro, acredita por algum motivo que não vai ser bem-sucedida e isso influencia a maneira como ela vê o mundo e como faz escolhas", diz.
Para ele, o pessimismo pode servir como uma espécie de "catalisador", influenciando o aparecimento de doenças. Para ele, o tratamento psicológico poderia ajudar as pessoas a se prevenirem contra o aparecimento de certas doenças.

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