São Paulo, terça-feira, 5 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bicheiro racista

JUCA KFOURI

Não gosto de palavrões em textos impressos. Acho que podem ser evitados sem comprometer o entendimento do leitor. Até mesmo quando dirigi a revista "Playboy", uma publicação mais liberal na linguagem, tratava de evitá-los.
Verdade que, aqui mesmo, reproduzi um "mééérrrrda" do ex-presidente do Flamengo Márcio Braga, porque era fundamental como fecho de uma nota que contava a avaliação que ele fazia do time rubro-negro. E alguém ainda tirou os acentos, que davam o tom bem carioca da expressão, para adequar a palavra aos rigores da gramática. Tudo bem.
Agora, no entanto, reproduzirei um trecho inédito das gravações feitas, com autorização judicial, das conversas do grupo de Ivo Noal que redundaram no escândalo da CPI do Bingo. O trecho, uma conversa entre Noal e seu braço direito Luis Buono, é estarrecedor. Ambos estão conversando sobre a abertura de um cassino clandestino quando Pelé aparece na TV dando uma entrevista:
Noal: " ...Olha esse negro filha da puta, olha. Esse negro filha da puta..."
Buono: "Quem, o Pelé?"
Noal: "É o Pelé na televisão, esse morfético. Canalha, monte de merda, só tá falando merda, já, já tá dando uma de negro..."
Buono: "É, é..."
Noal: "Puta que pariu, puta que pariu! Já tá dando uma de negro, esse canalha..."
Aí, retoma o assunto edificante de que vinha tratando. Além de bicheiro, racista. E continua solto.

E por falar na CPI do Bingo. Só a revista "Veja" não deu. Nem uma linha sobre o assunto. Todos os jornais deram bem dado, as TVs, incluindo a Globo, a Jovem Pan, que deu um show, a "IstoÉ". Mas a "Veja", nada. Claro que não é porque a sujeira envolve o deputado e vice-presidente do Vasco Eurico Miranda, por acaso o principal negociador dos direitos de televisionamento entre os cartolas cariocas.

E por falar em Pelé. A euforia dele no domingo à noite era transbordante. Ao entrar por telefone no "Cartão Verde", não deixou ninguém falar, queria desabafar. Um autêntico torcedor. E cometeu uma bela frase. "Goleiro frangueiro não há pai que salve."

Texto Anterior: Notas
Próximo Texto: Cruzeiro fica isolado durante as semifinais
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.