São Paulo, terça-feira, 5 de dezembro de 1995
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Organizadores recorrem a despachantes

DA REPORTAGEM LOCAL

A organizadora do Festival Internacional de Artes Cênicas, Ruth Escobar, disse à Folha que, para começar o festival em dia este ano, gastou R$ 60 mil com despachantes e teve que recorrer a "amigos no poder" (ela é amiga do presidente Fernando Henrique Cardoso, por exemplo) para liberar alguns dos cenários do festival.
"Fomos muito bem tratados pelo inspetor (Del Comuni). Mas o que vai acontecer quando eu não tiver mais estes amigos no governo?", pergunta Ruth.
Um dos casos mais ruidosos nesta área -e que ainda não acabou- envolve o diretor da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Leon Cakoff, e o inspetor-chefe Del Comuni.
Os dois vêm trocando acusações por escrito há semanas.
Cakoff afirma que, apesar de a mostra já ter terminado há quase um mês, ela ainda tem quatro filmes "embaraçados" na alfândega que ainda não puderam ser devolvidos aos países de origem. Ele diz que, com o acúmulo de problemas, passou a transportar via "courier" (como Fedex ou DHL) filmes que entram no festival.
"O sr. Cakoff vem mentindo a respeito dos problemas que teve e que foram causados, basicamente, por ele mesmo", diz Del Comuni.
Na maioria dos casos, os promotores de eventos culturais caem na mão de "despachantes especializados", que chegam a cobrar entre US$ 2.000 e US$ 4.000 para liberar algumas obras.
"A burocracia exigida é tão infernal que a saída é apelar para os despachantes, que são uma espécie de máfia que se beneficia do sistema", diz Emanoel Araújo, diretor da Pinacoteca. Segundo ele, apesar do tratamento diferenciado da alfândega dado à Pinacoteca, "os expositores e mostras menores sofrem com o excesso de normas".
Vega Basso Mattos, da Galeria Nara Roesler, afirma que, mesmo com a ajuda de despachantes, gastou 15 dias para liberar 27 obras do artista americano Brad Howe no aeroporto de Guarulhos para uma exposição no último dia 10 de outubro na cidade. "Gastamos mais de R$ 8.000 com despachantes e transporte. E, no final, as obras acabaram sendo liberadas às 13h do dia da exposição, que começaria às 20h. Foi um inferno."

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