São Paulo, quarta-feira, 6 de dezembro de 1995
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Governo afasta presidente da Eletronorte

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro de Minas e Energia, Raimundo Brito, afastou ontem o presidente da Eletronorte, Aluísio Guimarães Mendes, por suspeita de irregularidade em um acordo envolvendo dívidas da estatal com a construtora Andrade Gutierrez.
Segundo auditoria do Ministério das Minas e Energia, em outubro deste ano o ex-presidente da Eletronorte pagou R$ 235 milhões, em títulos, por uma dívida de R$ 102 milhões.
A dívida com a empreiteira referia-se à construção da usina de Balbina, no Amazonas.
Este foi um dos muitos pagamentos a empreiteiras que a estatal começou a atrasar a partir de 1990.
A maior parte dos débitos foi paga, em 1993, com títulos do setor energético -com deságio de 22%.
A princípio, a Andrade Gutierrez não quis participar do pacote de renegociação -e optou por acionar a Eletronorte na Justiça. Mas, em setembro último, a empreiteira recuou e propôs um acordo com a estatal, nos mesmos moldes dos que foram fechados com as demais empreiteiras.
Segundo Brito, Mendes assinou o acordo em oito dias, sem consultar os conselhos administrativos da Eletronorte e Eletrobrás. O deságio, em vez de 22%, teria sido de 56,5%.
"Ainda não temos elementos para dizer se o presidente da Eletronorte levou algum tipo de vantagem no negócio", disse Brito, que determinou a abertura de uma sindicância contra Mendes.
Além disso, a Eletrobrás vai pedir que a Andrade Gutierrez devolva os títulos usados no acordo. "Se não forem devolvidos, vamos recuperá-los através da Justiça", disse o ministro.
Aluísio Mendes havia sido indicado para a presidência da estatal pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
Em seu lugar, assumirá interinamente o presidente do conselho administrativo da Eletronorte, Mario Santos.
Contestação
A Folha procurou Mendes, mas seu assessor de imprensa disse que ele não comentaria o assunto ontem "para não entrar em conflito com o ministro".
O ex-presidente da estatal, no entanto, divulgou nota em que afirma que o acordo foi "vantajoso" para a Eletronorte.
Mendes contesta os números divulgados pelo ministro. Segundo ele, a construtora exigiu na Justiça o pagamento de R$ 368 milhões. A Eletronorte teria pago títulos que, com o deságio, equivaleriam a apenas R$ 85 milhões.
O ex-presidente da Eletronorte afirma também que, se esperasse a decisão final da Justiça, a estatal teria prejuízo maior. Segundo ele, já existe uma decisão judicial semelhante, envolvendo uma dívida da Chesf (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco), que beneficia a construtora Mendes Júnior.

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