São Paulo, quarta-feira, 6 de dezembro de 1995
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Raytheon fraudou proposta, diz senador

RAQUEL ULHÔA; LÚCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O senador Gilberto Miranda (PMDB-AM), relator do pedido de autorização para empréstimo externo para o Sivam, divulgou ontem documentos que, segundo ele, mostram que a empresa Raytheon aumentou os preços dos radares da Westinghouse para justificar a troca por equipamentos da Martin Marietta.
Segundo Miranda, o preço final oferecido pela Westinghouse era US$ 86,7 milhões e não US$ 165,2 milhões, como a Raytheon apresentou ao governo brasileiro.
A empresa norte-americana Raytheon foi escolhida pelo governo brasileiro para ser a responsável para implantar o Sistema de Vigilância da Amazônia.
Um dos documentos apresentado é uma carta da Raytheon para as duas empresas concorrentes -Martin Marietta e Westinghouse-, na qual informa que está fazendo a "recomendação final" para a aquisição dos radares.
"Lembro a V.Sas. que todos os contatos referentes a esse fornecimento devem ser com a Raytheon e não diretamente com o governo brasileiro ou com a organização do CCSivam", diz a carta.
Para o relator, a carta "prova que quem escolheu a Martin Marietta foi a Raytheon, ao contrário do que a empresa norte-americana afirmou ontem".
Segundo ele, "é muito estranho" que o governo brasileiro tenha criado uma comissão (CCSivam) para analisar tecnicamente o projeto e transferido a responsabilidade pela escolha dos equipamentos e fornecedores à Raytheon.
Em 14 de junho de 1994, a Raytheon solicitou novas configurações dos radares e são apresentados pela Westinghouse novos preços (US$ 101,3 milhões e US$ 90,9 milhões, como configuração alternativa).
Em 22 de julho de 94, a Raytheon apresentou ao então presidente da República, Itamar Franco, planilha com outro preço -US$ 165,2 milhões. A CCSivam solicitou à Raytheon nova proposta da Westinghouse para os radares.
Em 26 de outubro de 94, a Westinghouse informou que o preço final era de US$ 86,7 milhões, portanto, inferior ao da Martin Marietta (US$ 116,2 milhões), empresa escolhida pela Raytheon para fornecer os radares.
"Elevaram o preço da Westinghouse para US$ 165,2 milhões para parecer que havia economia, escolhendo Martin Marietta por US$ 116,2 milhões. O que fizeram foi aumentar o preço da Westinghouse, para privilegiar a Martin Marietta", disse Miranda.
O senador afirmou ter recebido o "jogo completo" de documentos dos EUA, na segunda-feira. Em uma das cartas, a Westinghouse se oferece para enviar representantes seus ao Senado brasileiro para explicar tudo o que aconteceu durante as negociações do Sivam.
O que Miranda mais estranha é a troca da Westinghouse pela Martin Marietta, quando o próprio presidente da República e o Senado haviam sido informados pelo então ministro da Aeronáutica, Lélio Viana Lôbo -hoje novamente no cargo-, de que a primeira empresa havia sido a escolhida.
O relator alega que a Martin Marietta nunca instalou radares móveis -do tipo oferecido ao Sivam- em lugar algum. Miranda disse esperar que a supercomissão do Senado que investiga o caso convide as empresas para depor.
Miranda denunciou no último dia 28 de novembro a troca dos radares. Na época, ele disse que os radares Martin Marietta custavam US$ 90 milhões a menos do que os da Westinghouse.
No dia seguinte, o Palácio do Planalto confirmou a troca, informando que a economia seria utilizada no próprio projeto Sivam.

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