São Paulo, quarta-feira, 6 de dezembro de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
'A Teta e a Lua' traz Luna menos audacioso
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
Soma-se aos já lançados e controversos "Ovos de Ouro" (1993), "Jamón, Jamón" (1992) e "As Idades de Lulu" (1990), explorando dessa vez o universo da carência afetiva e da descoberta do sexo -catalizada pela bailarina Estrellita (Mathilda May)- por Tete (Biel Duran), um garoto de cerca de oito anos. Bigas Luna beneficia-se, pela tangente, de empatia conquistada possivelmente pelo estilo transgressivo e debochado de Almodóvar. Bem ou mal, Luna explora essas mesmas características. E conquista público. No confronto, entretanto, o diretor é sistematicamente relegado a segundo plano diante do brilho de Almodóvar. Talvez a comparação seja mesmo covarde, mas, por outro lado, talvez Almodóvar venha gradualmente se tornando mais palatável à puritana família cinematográfica brasileira. Luna, por seu lado, mantém-se desabusado e escatológico, quase como Almodóvar era em filmes como o anárquico "Pepi, Luci e Bom" (1980). Em "A Teta e a Lua", abundam -com o perdão dos eufemismos- gases estomacais, líquidos orgânicos e maus odores corporais, sempre vinculados de alguma forma ao sexo. O sexo em si, por seu turno, aparece pouco, neutralizando o potencial escandalizador de seus filmes anteriores. Por isso mesmo, seu poder de fogo é reduzido em comparação aos outros. "A Teta e a Lua" parte de incomum perspectiva infantil para tematizar sexo e transgressão. Percebe, desde logo, que a jornada é árida e perigosa. Cai então na repetitividade, oscilando entre intermináveis impressões e expectativas narradas "em off pelo garoto e sua concretização visual -ou não. Luna revela timidez inédita a quem conhece sua audácia. Não chega perto da intensidade de "As Idades de Lulu" (em quantidade) ou "Jamón, Jamón" (em qualidade). Nem o humor chega escancarado, como o fora em "Ovos de Ouro ou "Jamón, Jamón. "A Teta e a Lua é quase melancólico. Sobram, pelas tabelas, a eleição obsessiva de símbolos e achados como a esculhambação com Sylvester Stallone e Monserrat Caballé, encarnados em personagens homônimos, a pirâmide humana que o menino é obrigado a escalar ou o trucão do desfecho do filme. Não é muito, em se tratando de Bigas Luna, mas ainda se destaca em meio à turba. Vídeo: A Teta e a Lua Produção: Espanha, 1994 Direção: Bigas Luna Com: Biel Duran, Mathilda May, Gerard Darmon, Miguel Poveta Lançamento: Paris (tel. 011/864-3155) Texto Anterior: Woody Allen retrata ocaso das ilusões Próximo Texto: Zumbis fazem paródia da sociedade de consumo Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |