São Paulo, quarta-feira, 6 de dezembro de 1995
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'A Teta e a Lua' traz Luna menos audacioso

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

No reboque do sucesso do espanhol Pedro Almodóvar em praias brasileiras, o cineasta catalão Bigas Luna conseguiu também seu nicho no mercado local. Seus trabalhos têm chegado às telas e às locadoras do país com certa rapidez; "A Teta e a Lua" (1994), seu filme mais recente, acaba de ser lançado em vídeo.
Soma-se aos já lançados e controversos "Ovos de Ouro" (1993), "Jamón, Jamón" (1992) e "As Idades de Lulu" (1990), explorando dessa vez o universo da carência afetiva e da descoberta do sexo -catalizada pela bailarina Estrellita (Mathilda May)- por Tete (Biel Duran), um garoto de cerca de oito anos.
Bigas Luna beneficia-se, pela tangente, de empatia conquistada possivelmente pelo estilo transgressivo e debochado de Almodóvar. Bem ou mal, Luna explora essas mesmas características. E conquista público.
No confronto, entretanto, o diretor é sistematicamente relegado a segundo plano diante do brilho de Almodóvar. Talvez a comparação seja mesmo covarde, mas, por outro lado, talvez Almodóvar venha gradualmente se tornando mais palatável à puritana família cinematográfica brasileira.
Luna, por seu lado, mantém-se desabusado e escatológico, quase como Almodóvar era em filmes como o anárquico "Pepi, Luci e Bom" (1980). Em "A Teta e a Lua", abundam -com o perdão dos eufemismos- gases estomacais, líquidos orgânicos e maus odores corporais, sempre vinculados de alguma forma ao sexo.
O sexo em si, por seu turno, aparece pouco, neutralizando o potencial escandalizador de seus filmes anteriores. Por isso mesmo, seu poder de fogo é reduzido em comparação aos outros.
"A Teta e a Lua" parte de incomum perspectiva infantil para tematizar sexo e transgressão. Percebe, desde logo, que a jornada é árida e perigosa.
Cai então na repetitividade, oscilando entre intermináveis impressões e expectativas narradas "em off pelo garoto e sua concretização visual -ou não. Luna revela timidez inédita a quem conhece sua audácia. Não chega perto da intensidade de "As Idades de Lulu" (em quantidade) ou "Jamón, Jamón" (em qualidade).
Nem o humor chega escancarado, como o fora em "Ovos de Ouro ou "Jamón, Jamón. "A Teta e a Lua é quase melancólico.
Sobram, pelas tabelas, a eleição obsessiva de símbolos e achados como a esculhambação com Sylvester Stallone e Monserrat Caballé, encarnados em personagens homônimos, a pirâmide humana que o menino é obrigado a escalar ou o trucão do desfecho do filme.
Não é muito, em se tratando de Bigas Luna, mas ainda se destaca em meio à turba.
Vídeo: A Teta e a Lua
Produção: Espanha, 1994
Direção: Bigas Luna
Com: Biel Duran, Mathilda May, Gerard Darmon, Miguel Poveta
Lançamento: Paris (tel. 011/864-3155)

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