São Paulo, quinta-feira, 7 de dezembro de 1995
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Tropa do Brasil é sitiada em Angola

RUI NOGUEIRA
COORDENADOR DE PRODUÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As tropas brasileiras que integram a missão de paz da ONU em Angola enfrentam desde segunda-feira à noite o primeiro incidente na ex-colônia portuguesa.
Uma companhia com 120 soldados foi cercada na região de Andulo, centro do país, e proibida pela Unita de fazer a patrulha da área.
Os 1.130 militares estão no país há 45 dias. O Ccomsemfa (Centro de Comunicação Social do Estado-Maior das Forças Armadas) informou ontem que as tropas haviam sido liberadas por volta das 19h locais (16h de Brasília).
"O vice-chefe da missão de paz sediada em Luanda, o general indiano Saksena, comunicou por telefone ao brigadeiro Márcio Bhering do Emfa que os soldados estavam voltando ao aquartelamento em Andulo", disse o Ccomsemfa.
Apesar de superado, na opinião de militares ouvidos pela Folha, o incidente torna mais tensa a presença das tropas brasileiras e aumenta as desconfianças sobre a resistência da Unita em cumprir o acordo de paz assinado há um ano.
O primeiro pelotão brasileiro, com 35 homens, a receber a ordem da Unita para paralisar o patrulhamento estava na região de Nhama, 22 km ao norte de Andulo.
A Unita, grupo rival do governo constituído pelo MPLA depois da independência em 1974, domina a região do Kuito onde está sediado o batalhão de infantaria à qual pertence a companhia imobilizada.
Na avaliação do embaixador de Angola em Brasília, Serra Van-Dúnem, o ato da Unita visa chamar a atenção dos observadores da ONU em Angola e "tumultuar a visita do presidente angolano, José Eduardo dos Santos, aos EUA". Ele encontra-se amanhã com o presidente Bill Clinton.
A versão surgida ontem em Luanda, identificando a ação da Unita como uma represália ao suposto envolvimento de um soldado brasileiro no estupro de uma mulher angolana, foi considerada "uma provocação" pelo Emfa.
O Ccomsex (Centro de Comunicação Social do Exército) disse que o comandante do batalhão, coronel Joaquim Cerrazes, negou o estupro. A chefia da tropa brasileira em Angola investiga o caso.
Além da Unita, as tropas brasileiras em Angola enfrentam agora também o problema da malária. Até ontem já tinham sido registrados 29 casos de malária -19 no batalhão de infantaria e 10 na companhia de engenharia que atua na reconstrução de estradas em Calomboloca, perto de Luanda.
Segundo o Ccomsemfa, todos os soldados atingidos pela malária estão medicados e passam bem. "Nenhum dos 29 casos está hospitalizado", informou o Emfa.

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