São Paulo, sexta-feira, 8 de dezembro de 1995
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Sem saída para os juros

LUÍS NASSIF

A crise dos juros demonstrou de maneira cabal a falta que faz ao país uma estrutura de capitalização para as empresas. O professor Gustavo Franco, do alto da experiência de quem já enfrentou os mais relevantes desafios individuais (defendendo teses acadêmicas), julga que a reclamação contra a crise parte de setores incompetentes. E acredita -no que está certo- que a crise depura empresas e força mudanças. É tese válida, para os sobreviventes.
A verdadeira crise da abertura econômica surgiu a partir de 1990. Empresas acomodadas foram obrigadas a se virar, atravessando em poucos anos o Rubicão da modernização.
A crise dos juros pegou a economia em uma situação curiosa. A maior parte das pequenas e médias empresas que enfrentavam programas de modernização estava descapitalizada. Simplesmente porque entraram nesses programas estimuladas, justamente, pela crise por que passaram a partir da abertura da economia.
A pedagogia da crise produziu uma geração de empreendedores de cabeça aberta -e de bolsos vazios. De certo modo, comportavam-se como aquelas pessoas que, em algum momento, sentiram a presença da morte. A partir daí, passam a valorizar o essencial e a desprezar dogmas culturais nocivos -como o apego ao controle total da empresa, a não-aceitação de sócios e parceiros etc.
Em suma, havia um setor real preparado para o salto final da modernização -aquele que leva ao rompimento entre propriedade e gestão, por meio da aceitação de sócios.
Desde o momento em que se anunciou o novo plano econômico, em fins de 1993, a coluna insistiu na necessidade de o governo adotar duas providências prévias: a flexibilização dos contratos de trabalho e a consolidação do mercado de capitais, ambos fundamentais para pavimentar o "aggiornamento" nas empresas.
Tinha-se, de um lado, empresas preparadas para receber capitais; de outro, capitais sequiosos de vir ao Brasil.
Nada foi feito. Consumado o estupro monetário, não havia o fecho de segurança de um mercado de capitais, não apenas para dar condições de sobrevivência a milhares de empresas, mas também para atuar como agente modernizador de estruturas societárias.
Passado o primeiro ano do novo governo, o ministro da Fazenda, os diretores do Banco Central, os assessores econômicos e uma multidão de técnicos permitem-se acusar de incompetentes empresários em dificuldades.
Mas, até agora, não se moveu uma palha no sentido de criar uma estrutura moderna de mercado de capitais.
Ativos públicos
Estudos técnicos de estatais do setor elétrico estão sendo oferecidos de graça a empresas candidatas ao programa de privatização. Seria conveniente rever essa postura, pois, tendo valor econômico, os estudos se constituem em patrimônio público. Quem quiser, que pague.

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