São Paulo, sexta-feira, 8 de dezembro de 1995
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Prioridade é o controle dos diamantes

NEWTON CARLOS
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Mesmo depois de assinado o acordo, acabando, no papel, com uma das guerras mais cruentas dos últimos 50 anos, a de Angola, os dois lados, governo e rebeldes, continuaram recrutando novos soldados e comprando novas armas.
Sinal de "incertezas profundas" quanto ao futuro. O comandante das tropas da ONU, um general do Zimbábue, diz em relatório que o aumento das tensões "é patente em todas as zonas conflituosas" e que o processo de paz pode estar por um fio, colocando as dificuldades do contingente brasileiro num ambiente explosivo.
Não começou até hoje a integração dos 200 mil soldados do oficial MPLA (Movimento Popular pela Libertação de Angola) e da rebelde Unita (União Nacional pela Independência Total de Angola) num só Exército angolano. Em outra etapa, 110 mil seriam desmobilizados, para comprimir armamentismos e combatentes, depois de treinados em algum tipo de profissão. "Acontece que todo mundo tem armas", denuncia a ONU, que se comprometeu a preparar 15 áreas de ajuntamento e cursos, mas não fez nada e, por isso, é acusada de responsável pelos sucessivos adiamentos.
Há partes de Angola onde as armas não silenciaram nem temporariamente. Os dois lados continuam disputando a tiros o controle de campos de diamantes, em Províncias ao norte e ao sul de Luanda, no oeste "selvagem" da África.
Uma "corrida enlouquecida à cata de diamantes", na qual se confundem mercenários, contrabandistas, bandidos, oficiais e soldados do MPLA e da Unita, segundo jornalistas que adentraram esses campos. Um oficial da ONU revela que só em um mês o MPLA perdeu 153 homens.
Pouco mais de 100 metros separam as linhas de frente de ambas as forças, cada um em uma das margens do rio Chicapa. O acordo de paz não vale nada, o que importa são os diamantes, que podem resultar em faturamentos entre US$ 350 milhões e US$ 400 milhões por mês.
Com o fim da Guerra Fria e do financiamento dos Estados Unidos, os recursos de guerra da Unita vieram daí. Até um mediador da ONU admite que a guerrilha continua cavando, "porque altos funcionários do governo cavam na outra margem".
O presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, diz que é prioridade retomar o controle dos campos de diamantes. Sem isso a guerra não cessa. Mas está difícil.

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