São Paulo, sexta-feira, 8 de dezembro de 1995
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A amostra que condena

Ainda que não tivesse sido publicada uma única linha sobre o Sivam (Sistema Integrado de Vigilância da Amazônia) nos dias ou meses anteriores, a simples leitura da edição de ontem desta Folha já sugeriria um reexame profundo desse polêmico projeto.
Pela ordem em que as informações apareceram no jornal, o público foi informado de que:
1 - O senador que é o relator do pedido de autorização para o financiamento externo ao Sivam (Gilberto Miranda, PMDB-AM) condicionou, faz apenas um mês, o seu parecer favorável ao aumento da participação da empresa norte-americana Raytheon.
Não atendido, deu parecer contrário. É natural, por isso, suspeitar de que ele não está movido exatamente pelo interesse público.
2 - A Esca, empresa brasileira escolhida e depois afastada do projeto, por inidoneidade, negociou com companhias estrangeiras o fornecimento de equipamentos, antes mesmo de ter sido indicada.
Uma empresa privada atuando em nome do governo é, no mínimo, muito estranho.
3 - O TCU informa que seis dos nove integrantes da comissão do Ministério da Aeronáutica que escolheu a Esca eram, ao mesmo tempo, funcionários da empresa.
Tamanha promiscuidade já não é apenas estranha, é condenável.
4 - Uma das empresas que vai atuar no Sivam, a E-Systems, é na prática apenas um braço da CIA, a agência de espionagem e do governo norte-americano.
Considerando-se a sensibilidade do material a ser colhido pelo Sivam, convidar uma empresa desse tipo parece equivaler a introduzir um cavalo de Tróia na cobiçadíssima região amazônica.
5 - O representante da Raytheon no Brasil, José Afonso Assumpção, esteve envolvido no escândalo Paulo César Farias.
Não é exatamente um personagem recomendável para ter como parceiro, ainda mais em uma operação já cercada de tantas sombras.
Fosse o Sivam um projeto de prioridade líquida e certa, essa pequena amostra de informações, referente a um único dia, já sugeriria que a única coisa sensata a fazer é o governo tomar a iniciativa de reexaminar absolutamente tudo.
Quando se sabe que o país em geral e a Amazônia em particular têm brutais carências de saúde, educação, saneamento básico etc., a prioridade que se insiste em conceder ao Sivam torna-se ainda mais discutível e, por extensão, mais recomendável o seu reexame.

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