São Paulo, sábado, 9 de dezembro de 1995
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Descontrole

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - O episódio da pasta cor-de-rosa deve produzir vítimas. No momento, quem está mais próximo do cadafalso é o diretor de Fiscalização do Banco Central, Cláudio Mauch.
Em verdade, a corda já envolve o seu pescoço. Apenas ainda não se definiu o momento exato de apertar o nó. O que o segura no posto é a ameaça de demissão coletiva de toda a cúpula do Banco Central.
Até mesmo Gustavo Loyola, presidente da instituição, mostra-se disposto a deixar o governo se o pescoço do subordinado de fato rolar. Mauch é suspeito de ter vazado o conteúdo da pasta que vincula algumas das mais felpudas raposas da política nacional ao banqueiro falido Ângelo Calmon de Sá.
O diretor nega com veemência, mesmo nos diálogos mais reservados, qualquer participação no vazamento. A pasta estava, porém, sob sua guarda. A presença na lista cor-de-rosa de dois conhecidos desafetos de Mauch -José Serra e ACM- faz com que seus desmentidos derretam.
Há, porém, pelo menos mais quatro suspeitos além de Mauch: Gustavo Franco e Alkimar Moura, os outros dois diretores do BC que conheciam o conteúdo da pasta, o próprio Loyola, e o interventor no Econômico, Francisco Flávio Barbosa.
Mauch pensou em antecipar-se a uma eventual demissão. Tomaria ele próprio a iniciativa de pedir exoneração. Foi desaconselhado por amigos. A saída agora apenas reforçaria as suspeições que lhe pesam sobre os ombros.
O ministro Pedro Malan, a quem o BC está subordinado, acredita na inocência de Mauch. Tampouco crê que qualquer outra autoridade do BC possa ter vazado o teor da papelada. "Eles não dariam um tiro no pé", diz. O Planalto não tem tanta certeza.
No sede do BC, em Brasília, tenta-se responsabilizar o interventor Flávio Barbosa. Ele também nega que tenha vazado o teor da papelada. Mas, a exemplo de Mauch, está com um pé no patíbulo.
De resto, o caso da pasta cor-de-rosa terminou de tingir de cinza o ambiente de Brasília, já conturbado com o ainda nebuloso escândalo do Sivam. Antes do caso do "grampo", Fernando Henrique pisava um tapete vermelho. Agora, caminha sobre terreno minado.

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