São Paulo, sábado, 9 de dezembro de 1995
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O segredo dos sequestros

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - Gostaria de transcrever artigo do jornalista Pedro do Couto em jornal aqui do Rio. Como não há espaço e não fica bem cumprir minha obrigação com o suor alheio, limito-me a alguns tópicos. Ele comenta as declarações do pai de um sequestrado recente, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, que teve o filho libertado há dez dias. Couto chega à mesma constatação do presidente da Firjan:
"Os planejadores dos sequestros, os quais, na realidade, não aparecem, não são os mesmos que ameaçam a vida dos reféns, praticando o torpe, imundo e absurdo crime de privar alguém de sua liberdade e exigir dinheiro para devolvê-lo com vida à família. (...) Há representantes de porte do sistema financeiro envolvidos na captação e depósito dos resgates pagos. Pois ninguém poderá acreditar que um grupo de pessoas, formado por criminosos da pior espécie, possa reter em seu poder, por vários dias, importâncias que em alguns casos ultrapassam a barreira do milhão de dólares".
Houve muito nariz torcido quando, depois da libertação do filho, o presidente da Firjan culpou as elites pela cumplicidade passiva com o crime organizado. Esses rapazes que deixaram de ingerir proteínas nos primeiros três anos de vida, que possuem neurônios desnutridos, usam sandálias de dedo, sujíssimas, e perderam metade dos dentes por aí, dificilmente têm acesso a bancos, ao mercado financeiro. O que fazem eles quando recebem, por exemplo, US$ 1 milhão? É um dinheiro que precisa ser lavado ou entregue a seus verdadeiros destinatários.
Ao lançar Marilyn Monroe no cinema, John Houston fez um clássico do gênero policial: "Asphalt Jungle", que, maltraduzido, virou "O Segredo das Jóias". Um grupo de criminosos (bem mais nutrido do que os nossos) pratica uma série de crimes. Mas há um mandante e beneficiário por trás da quadrilha: um advogado de prestígio social e econômico na sociedade.
A fábula de Houston pode parecer primária. Pensando bem, é primaríssima. Mas não deixa de ser verdadeira.

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