São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 1995
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NA PONTA DO LÁPIS

MARCELO LEITE

Recebi do repórter Gustavo Patú, da Sucursal de Brasília, uma contestação a observação da coluna anterior, sobre duas cifras diferentes para o total de moedas podres que o governo passaria a aceitar no programa de fusão de bancos. Reproduzo o parágrafo central da objeção:
"Dizer que a própria Folha publicou valor menor dá a entender que houve pelo menos duas reportagens divergentes, em datas diversas. Na verdade, o número R$ 26,4 bilhões, supostamente contraditório, consta do box que acompanha a reportagem de sexta-feira (1/12). E, exatamente no mesmo box, quinto parágrafo, repete-se o valor de R$ 51 bilhões citado na reportagem! Os R$ 26,4 bilhões, que só aparecem dois parágrafos depois, referem-se ao total de moedas podres em poder dos bancos PRIVADOS (os R$ 51 bi incluem os públicos) e já descontados os 20% a mais que o BC exige ao aceitar créditos podres com garantias de empréstimos."
O repórter tem razão. Na leitura rápida das duas reportagens no alto da pág. 2-3 do dia 1º, estranhei a falta de explicação da reportagem principal para as contas que só apareciam no box, na suposição de que falavam da mesma coisa.
Sem a intenção de justificar-me, é o caso de fazer um acréscimo. Ainda acho que o jornal deu muito destaque para a cifra global de uma das moedas podres, a dívida do Fundo de Compensação de Variações Salariais (FCVS), os tais R$ 51 bilhões, e que este é o número que vai ficar na cabeça dos leitores como "a bolsa aberta a banqueiros", nas minhas palavras de domingo passado.
No entanto, os cálculos apresentados no box tinham a maior importância. Sua conclusão era de que a vantagem real que pode ser auferida pelos estabelecimentos bancários privados dentro do programa, incluindo todas as moedas podres (e não só o FCVS), é bem menor do que os portentosos R$ 51 bilhões que ornavam a Primeira Página daquele dia: "Os bancos poderiam lucrar até R$ 13,2 bilhões".
Ainda é dinheiro demais para escorregar dos cofres públicos aos privados. Nada menos do que dez Sivams, mas só um quarto dos R$ 51 bilhões. Tal é a conta que o público pode vir a pagar e que o jornal não foi capaz de informar com o devido destaque ao leitor.

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