São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 1995
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Interesse de multinacionais gera aumento de fusões e associações

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

A via da aquisição, fusão ou associação de empresas é o atalho seguido pelo capital estrangeiro para chegar mais rápido ao promissor mercado brasileiro. O número dessas transações no país, que ganharam notoriedade nas últimas semanas com as fusões envolvendo bancos, é calculado em 250 para este ano, com crescimento de 20% em 1996, de acordo com a consultoria Price Waterhouse.
Informática, mídia e autopeças são consideradas áreas de grande potencial para essas operações no próximo ano.
A tendência é confirmada pela consultoria Arthur Andersen: 49% das 500 maiores empresas do país planejam expandir seus negócios através de fusões, aquisições e joint ventures.
A participação das multinacionais nessas negociações aumentou de 21% em 1989 para 38% este ano, de acordo com a Price Waterhouse.
Raul Beer, sócio-diretor da consultoria, diz que estabilização, abertura, potencial de crescimento, reestruturação industrial, profissionalização das empresas familiares e privatização são os pontos fundamentais de atração.
Outro atrativo de peso é a perspectiva de usar o Brasil como base para o Mercosul (Mercado Comum do Sul).
"Desde a introdução do Plano Real recebo uma consulta por dia de empresas estrangeiras querendo investir no país", afirma o empresário.
Para citar alguns exemplos recentes, a Antarctica associou-se com a Anheuser-Busch, a Brahma com a Miller Brewing (no segmento de bebidas), a Santista com a Barilla (massas) e a International Paper com a Toga (embalagens).
Beer acredita que a atividade de aquisição e fusões do capital estrangeiro terá um grande impulso com a regulamentação do investimento na privatização e concessão de serviços públicos.
Celso Giacometti, presidente da Arthur Andersen, diz que a tendência de fusões, aquisições e joint-ventures é "inexorável" na era da globalização econômica.
Giacometti destaca entre os fatores determinantes da onda de aquisições e fusões a busca de maior competitividade em mercados onde a concorrência é cada vez mais forte.
"O cliente ou o consumidor final agora é o rei, e as empresas se reestruturam para atendê-lo com produtos e serviços de qualidade global", diz.
"As empresas vão ter de ouvir o que o cliente está dizendo, ganhar escala, procurar sinergias, reduzir custos e desenvolver tecnologia", prevê.
Giacometti crê que a redução da margem de lucros das empresas é outro fator importante por trás da tendência de fusões.
A pesquisa "Termômetro Empresarial", da Arthur Andersen, divulgada na última quarta-feira, revela que 64% das maiores empresas instaladas no país vão usar a redução da margem de lucro como uma estratégia para assegurar competitividade.
"Os empresários brasileiros, para garantir condições mais favoráveis de competição, pretendem obter know-how e realizar associações para ter acesso à tecnologia internacional", afirma.
Giacometti destaca como exemplos das alianças estratégicas a associação, na área de minérios, entre as empresas Caraíba Metais, Eluma, Paranapanema e Paraibuna (com a presença de fundos de pensão); a compra da Continental pela Bosch (para a fabricação da linha branca e fogões no Brasil); e a associação das empreiteiras Camargo Correa e Andrade Gutierrez, para a exploração da concessão da via Dutra, a estrada que liga os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

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