São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 1995
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Operários do mundo se unem via Internet

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

Informação é poder. Consciente disso, o movimento sindical usa cada vez mais a seu favor os instrumentos da informática.
Conferências na Internet ou outras redes internacionais são criadas. Há troca de informações à distância, debate de idéias e propostas políticas e até organização de greves em redes.
Ao contrário dos trabalhadores têxteis do final do século passado, que queriam destruir as máquinas, pois consideravam que assim conteriam o desemprego, dirigentes sindicais estão cada vez mais deslumbrados com a tecnologia.
Mas ainda há barreiras. "A cultura do movimento sindical é oral, de assembléia. O sindicalista está acostumado a falar e gosta do telefone. A comunicação por escrito é tabu", diz Sérgio Mendonça, diretor do Dieese, órgão de assessoria econômica dos sindicatos.
No debate com trabalhadores de outros países, a língua é obstáculo. Não muitos sindicalistas sabem falar, e menos ainda escrever, o inglês, idioma mais usado nas redes internacionais de comunicação. "A difusão da informática no movimento sindical é lenta."
Em um país grande como o Brasil, é necessário, ainda, lidar com disparidades.
Os trabalhadores urbanos têm mais contato com computadores. O mesmo não acontece com os rurais, cujos sindicatos, inclusive, têm poucos recursos para investir em informática.
Por enquanto, as grandes centrais sindicais brasileiras ainda não criaram suas próprias redes. Mas os primeiros estudos nesse sentido já estão sendo realizados.
A CUT já tem endereço no Alternex, parte de uma rede internacional que se liga à Internet. O endereço é cutnac ax.apc.org. Mas as comunicações ainda são poucas, diz a analista de sistemas Claudia Leão.
Segundo ela, a central já está estudando onde desenvolver uma rede nacional própria.
"A conjuntura é dinâmica e os patrões sabem da importância da informação mais ágil. Precisamos nos armar também", diz Remigio Todeschini, tesoureiro da CUT.
A Força Sindical e seu principal sindicato, o dos metalúrgicos de São Paulo, ainda não têm endereço na Internet, mas estudam uma conexão com a rede até o final do ano que vem.
José Campos, tesoureiro do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, o maior da América Latina, calcula que a entidade já fez investimentos de R$ 300 mil em informática.
Com mais de 70 PCs e um Macintosh, o sindicato usa a rede Novel. "Se algum metalúrgico quer saber como anda seu processo trabalhista, por exemplo, temos acesso aos arquivos da Justiça e delegacias do Trabalho", diz Campos.
A Força Sindical pretende, em março ou abril, criar rede que permita ligação "on line" com os sindicatos filiados, segundo Salazar Pinto de Almeida, assessor financeiro. Hoje, a central têm 10 PCs 486 ligados pela rede Novel.

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