São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
O irresponsável de ontem é o líder de hoje
ALBERTO HELENA JR.
Sobretudo porque joga sob o peso da goleada do Maracanã e desfalcado de jogadores vitais para o esquema de Cabralzinho, como Jamelli, Robert e Vágner, dois expulsos e um automaticamente suspenso pelo terceiro cartão amarelo. Mas, convenhamos, aquele foi um jogo atípico, quase único na história do nosso futebol. Assim como a goleada de 4 a 1 do Flu sobre o Santos foi um lance de exceção. Não pela virada em si, que já se insinuava no primeiro tempo, quando o Santos teve o jogo aos seus pés, vencia e não encontrava resistência de um Flu abúlico, meio aparvalhado mesmo. Apesar disso, refluiu para um toque de bola inócuo que foi cevando no adversário a esperança da virada. E não deu outra: sob o contagiante e heróico comando de Renato Gaúcho, o Flu revirou a história de um jogo que parecia já estar definido para os incautos santistas. A propósito, quero abrir uns parágrafos para esse jogador desconcertante, capaz de virar a própria vida de cabeça pra baixo. Porque craque Renato sempre foi. Sempre teve essa velocidade e essa raça, jogando pelo Grêmio, onde se revelou, ou pela infinidade de clubes por onde passou com seu ânimo de viramundo. Todos, porém, apontavam para Renato e diziam: um craque, pena que não tenha cabeça. E não tinha, pelo menos jogando bola e gozando a vida. Destemperava-se com os adversários, com os companheiros, mergulhava nas páginas da imprensa mais sensacionalista. Um estróina. Uma ova, pois só agora sabemos que soube juntar seu dinheirinho com a cautela de um guarda-livros, embora exibisse publicamente seu lado bon-vivant. E o irresponsável de ontem é o líder carismático de hoje, que atende aos companheiros mais necessitados, negocia com cartolas, mantém a harmonia do elenco, nem que seja às suas próprias expensas, infunde confiança nos parceiros, na torcida, pede a bola nos momentos críticos, arma o jogo e faz gols decisivos. Tão desconcertante que, quando se imagina Renato caído, cansado, à beira da aposentadoria, ei-lo em campo, múltiplo, onipresente, arco e flecha ao mesmo tempo, vendendo saúde e esperança. Resumindo: o craque total, num time modesto, mas nem por isso subestimável. Afinal, esse Flu, na bica de ir à decisão, é campeão carioca e garantiu presença nas semifinais já no primeiro turno. Logo, não pode ser tão timinho assim. Quanto ao Santos, resta esquecer o desastre do Maracanã e lembrar do mesmo Santos de uma semana atrás, contra o Guarani. Lutando do começo ao fim, chegou aos 2 a 0, nos minutos derradeiros. Quem sabe hoje, nem que seja por meros 90 minutos, a vida de Renato desvire na virada imprevista. Texto Anterior: Abismo salarial joga vaga hoje Próximo Texto: ENQUETE Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |