São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 1995
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Renato vira unanimidade, mas diz continuar o mesmo

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

O atacante Renato Gaúcho notabilizou-se como um vencedor no futebol. Aos 21 anos, foi campeão mundial pelo Grêmio-RS. Até 1995, tinha outra marca: a de polêmico causador de confusões.
Em junho, quando venceu o Campeonato do Rio, conquistou a cidade. Desde quinta-feira, quando empurrou o Fluminense à goleada de 4 a 1 contra o Santos, virou unanimidade nacional.
Aos 33 anos, pouco lembra o rebelde indomável, que vivia a ser expulso de campo.
Na sexta-feira, ele falou à Folha no jardim de sua casa, na Barra da Tijuca (zona sul do Rio), ao lado do amigo Gaúcho.

Folha - Vamos aproveitar que o Gaúcho também está aqui: o que você acha das histórias sobre a suposta existência de algo mais do que uma amizade entre vocês dois?
Renato Gaúcho - Noventa por cento dos caras que dizem isso são meus sócios. Tenho sociedade com eles nas mulheres deles.
Gaúcho (que intervém) - E eu peguei a mulher dos outros 10%.
Folha - Os boatos sobre homossexualidade te chateiam?
Renato - Não. Quem tem que gostar de mim são as mulheres. E 100% delas sabem como eu sou.
Folha - Você acha que o motivo dos boatos é ciúme?
Renato - Aqui todo cara famoso é chamado de veado. E toda mulher famosa, puta. Na opinião feminina, tenho 100% de aprovação.
Folha - Quem são seus ídolos?
Renato - No futebol é o Zico. Pelo que ele fez dentro de campo e pelo que é fora.
Folha - Romário tem criticado Zico. Quando você o elogia está reagindo a Romário?
Renato - Nada disso. Nessa bronca eu não me meto.
Folha - Você é contra concentração para jogadores?
Renato - Acho que tem que haver concentração. Eu sou um que, se deixar livre, ferrou.
Folha - No varal aqui da sua casa há duas toalhas com as iniciais do Flamengo. Você tem saudade da Gávea?
Renato - Que nada. Essas toalhas estão aí porque dão um ótimo pano de chão.
Folha - É bom ter virado unanimidade nacional?
Renato - É ótimo. Eu mudei bastante em algumas coisas. Em outras, continuo o mesmo.
Folha - Em que mudou?
Renato - Agora conto até três antes de fazer as coisas. Mas continuo falando o que penso. Não tenho rabo preso com ninguém.
Folha - Você sempre teve personalidade forte?
Renato - Sim. Comecei a trabalhar aos 12 anos, como padeiro.
Folha - Que função específica cabia a você na padaria?
Renato - Eu era ótimo padeiro. Fazia desde a massa até a entrega. Com essa lata (aparência) que Deus me deu, gostava de fazer entregas para mulheres.
Folha - Quando você deixou a padaria?
Renato - Aos 14 anos. Fui montar cozinhas numa fábrica de móveis em Bento Gonçalves.
Folha - Você tem 14 anos de futebol profissional. Com sua experiência, você deixaria os jogadores do Fluminense pintarem cabelo e fazerem cortes como os do Santos, comemorando a classificação para uma semifinal como se fosse título?
Renato - Aqui eu não deixaria, mas cada um faz o que bem entender. Depois da final, no Fluminense pode até pintar de amarelo e jogar de bota. Agora, não.
Folha - Faltou malandragem aos santistas?
Renato - O time que não tiver dois ou três jogadores na faixa de 30 anos está morto.
Folha - Nesse ponto, qual é a melhor fórmula para um time?
Renato - Em qualquer competição, como na Copa do Mundo, tem que ter experiência e juventude. Os mais velhos orientam e os moleques correm.
Folha - Você se sente infeliz por não ser mais convocado para a seleção brasileira?
Renato - Não quero nem falar no meu caso. Gosto do Zagallo, mas não entendo as convocações dele. Ele diz que a Copa América é para testes. O que é isso? É a competição mais importante depois da Copa do Mundo.

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