São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 1995 |
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'É um tipo de egoísmo'
MILTON SANTOS
São poucos os atores que têm o poder de penetrar as fronteiras e desmanchar o que existe dentro dos países. Eu acho que a fronteira tem outras eficácias, tem um dado fundamental da construção, da globalização tal qual ela é atualmente. Ela pode ser um dado fundamental da construção de uma outra coisa. (...) O egoísmo das nações torna-se ampliado à medida que se constitui uma Comunidade Econômica Européia, que tem um objetivo que é participar numa nova divisão do poder no mundo. Quer dizer, a construção da Europa já parte de uma base equivocada do ponto de vista teleológico, porque o que se está buscando não é a construção de uma fraternidade. Então, essa forma de egoísmo decorre desse motivo egoístico primeiro, e o fechamento das fronteiras na Europa está ligado, creio, a uma visão do emprego, da produção e da garantia do emprego ligada a uma maneira de usar os recursos atualmente existentes, que não é obrigatório. O mundo não tem porque continuar utilizando os recursos de que dispõe da maneira que está fazendo. Esse é o problema central. (...) O que os negros desejam é ser como todo mundo. Então onde está a fronteira? Ela existe agora, basta chegar na USP, que é uma vergonha. A maior universidade do Brasil não tem o número de negros que poderia ter se quisesse. Então isso é a fronteira, que, neste caso, não é invisível, não é inconsútil, é selvagem, não? Eu creio que é urgente, é indispensável que rapidamente se busquem medidas compensatórias, que não devem se limitar às vagas para negros nas universidades. Tem também que deixá-los comer bem, dormir bem, morar bem, poder conviver com pessoas que facilitem, digamos, a sua ilustração, quer dizer, criar todo um clima que seja realmente compensatório. Texto Anterior: 'É preciso qualificar as fronteiras' Próximo Texto: Homem precisa da lei do amor Índice |
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