São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 1995
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'É preciso qualificar as fronteiras'

PAULO SÉRGIO PINHEIRO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Eu acho que as fronteiras têm uma face positiva e uma face negativa, sem querer fazer conciliação. Eu acho que as fronteiras foram positivas, por exemplo, na constituição dos Estados-Nações, nos processos de independência, nos processos de luta contra a colonização. Hoje, quando se pensa o que está acontecendo no fechamento das fronteiras nos países europeus, é algo que soa intensamente negativo.
Quando eu penso, por exemplo, na situação dos ciganos na Europa, para os quais as fronteiras estão se fechando, ou então para os cidadãos do Terceiro e do Quarto Mundos, para quem cada vez mais o acesso à Europa é difícil, eu acho que a fronteira pesa em termos negativos.(...)
Por outro lado, a definição do Parque Ianomami é decisiva, precisa ter fronteira, precisa ter o território.(...) Aquilo tem que ser defendido rigorosamente. Os garimpeiros não podem entrar lá, os índios não podem ser destruídos, então é preciso ter fronteiras. Então, eu acho que nesse sentido é importante ter estratégia de sobrevivência, fronteiras para as culturas. Não dá para falar em fronteiras em abstrato, nós temos sempre que qualificar.(...)
Nessa perspectiva, os quartos são importantes, por exemplo, se nós pensarmos que as favelas são um espaço da Idade Média, onde o quarto, o lugar de dormir, o lugar de comer não estão delimitados. O espaço público e o espaço privado também não têm fronteiras.
No governo Erundina foi uma coisa fantástica nas favelas delimitar espaços públicos, pequenas pracinhas que as pessoas não podiam jogar lixo, que não podiam pendurar roupa. (...) Eu vi a emoção da população daquelas pequenas pracinhas. Então, é bom ter fronteira nestes casos. (...)

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