São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Guerrilha Unita retoma tática do boato contra ONU
RUI NOGUEIRA
A "ofensiva" de informações falsas da Unita coincide com a chegada dos brasileiros à Província de Bié, onde nasceu o líder da Unita, Jonas Savimbi. A guerrilha sabe que histórias de violência sexual são frequentes em missões militares que implicam o convívio de grandes contingentes de soldados com as populações locais. Um soldado romeno da ONU morreu metralhado por soldados angolanos ao tentar agenciar prostitutas. O Exército brasileiro chegou a investigar o suposto estupro, mas, até anteontem, quando recebeu o último boletim disciplinar em Brasília, não havia qualquer indício de participação de soldados em casos de violência sexual. A Unita já tinha tumultuado as negociações de paz com a denúncia de um suposto atentado contra o general Arlindo Chenda Pena, o "Bem-Bem", um dos chefes do grupo guerrilheiro. Não há provas do suposto atentado. Sem a estrutura do MPLA (Movimento Popular para a Libertação de Angola), que, após 17 anos no poder, dispõe da rádio e da TV estatais, a Unita percorreu o país em 92 lançando dois "mujimbos" que impressionavam o eleitorado, quase todo de analfabetos. O grupo espalhava em comícios que José Eduardo dos Santos, o candidato do MPLA à Presidência e adversário de Savimbi, era branco e não nascera em Angola. O outro boato: ninguém poderia esconder a sua intenção de voto da Unita porque o grupo tinha "quimbandas" (feiticeiros) para adivinhar o voto de cada angolano. Os dois "mujimbos" obrigaram o MPLA a imprimir milhares de cartazes com o retrato de Santos e a distribuir panfletos com cópia da sua certidão de nascimento. A TPA (Televisão Popular de Angola) tem um alcance limitado. Tirando Luanda e mais duas ou três cidades do litoral, como Lobito e Benguela, o interior do país nunca tinha visto o presidente. Outra arma da Unita era a Vorgan (Voz Revolucionária do Galo Negro), uma rádio ambulante. O galo negro é o símbolo da Unita. Apesar de todo o poder do grupo, Santos conseguiu ganhar a eleição. Ficou com 49% dos votos, contra 40% do adversário. Texto Anterior: Fidel visita casa de Ho Chi Minh; Kwasniewski mentiu, diz Suprema Corte; Russo desiste de eleição tchetchena; Confronto deixa 70 feridos em Bangladesh; Clinton se distancia de Dole em pesquisa Próximo Texto: Chute no saco Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |