São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 1995
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Os nomes da rosa

Considerado isoladamente, o caso da pasta rosa, o mais recente "potin" brasiliense, teria importância menor. Ninguém, afinal, tem o direito de ignorar que campanhas políticas são irrigadas com dinheiro saído dos cofres do empresariado, sejam eles banqueiros, empreiteiros, industriais ou comerciantes.
Na hierarquia das irregularidades sobre as quais há suspeitas no momento, o caso da pasta rosa teria dificuldades para abrir caminho até as primeiras páginas dos jornais.
Se o fez é porque não apareceu isoladamente e, sim, na esteira de pelo menos dois outros escândalos mais graúdos. O primeiro foi o do "grampo" nos telefones do então chefe do Cerimonial, embaixador Júlio César Gomes dos Santos. Das gravações emergiram o outro, as suspeitas sobre o Sivam, diariamente realimentadas por novas informações que lançam uma nuvem de dúvidas a respeito do programa.
A agenda do Congresso passou a ser dominada por esse ambiente disseminado de intrigas, acusações e contra-acusações. A esse caldo de cultura, já por si denso, agregou-se o caso da pasta rosa.
A opinião pública já está fortemente inclinada a suspeitar da moralidade dos homens públicos, como o demonstrou pesquisa do Datafolha, publicada domingo passado, em que 85% dos paulistanos afirmam acreditar na existência de corrupção no governo FHC.
Como não há qualquer evidência objetiva a embasar tal crença, só se pode concluir que a triste história recente do país deixou um rastro de desconfianças difusas, mas disseminadas, a ponto de já não poupar ninguém do mundo político.
O grave nessa sequência de episódios é que eles abrem duas vertentes, ambas igualmente negativas: de um lado, tendem a corroer ainda mais a confiança do público nos governantes e nos políticos de modo geral. E, de outro, estão paralisando completamente o Executivo e o Legislativo, a ponto de as reformas constitucionais -prioridade absoluta até há três semanas- terem cedido seu espaço até para a pasta rosa.

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