São Paulo, segunda-feira, 11 de dezembro de 1995
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Sai a nudez e entra interpretação

MARCELO PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Brasil é um gigante sonado. Às vezes acerta, na maioria, erra. O que se conhece do Brasil lá fora? Carnaval é óbvio. Futebol idem. Às vezes, o vôlei acerta. Já fomos os bambas em salto triplo, sempre seremos em automobilismo.
Música é o nosso forte, o país do swing. De música não preciso falar. Literatura, poucos conhecem. Teatro, quase nada. Cinema, emplacamos o Cinema Novo e esporádicas produções. No mundo acadêmico, tudo que se refere a Terceiro Mundo é a ciência brasileira que dita, de Paulo Freire a Fernando Henrique.
Mas existe uma categoria profissional daqui que tem talento saindo pelo ladrão, e poucos reconhecem. Elas, as atrizes. Dois exemplos, musas de mil gerações: Carmem Miranda e Cacilda Becker. Só de cabeça, me lembro de quatro prêmios internacionais, Marília Pera, Fernanda Torres, Ana Beatriz Nogueira e Marcélia Cartaxo. Vou falando alguns nomes e você me diz o que acha. Bibi Ferreira, Fernanda Montenegro, Norma Bengell, Leila Diniz, Odete Lara. Ah, sim, Sônia Braga. E estrelas caem do céu: Andréa Beltrão, Débora Bloch, Beth Coelho, Cláudia Abreu, Giulia Gam, Denise Fraga, Patrícia Pillar, ora, são tantas. Me esqueci de alguma? De várias.

O cinema brasileiro nunca foi generoso com suas musas. Mostrou e abusou das partes íntimas em close. Mulher nota dez, tiveram de alimentar o culto da beleza da mulher brasileira e muitos talentos desperdiçados para saciar a sede masculina em vê-las peladonas. O diretor brasileiro é uma peça central no nosso machismo. Mas isto está mudando.
Dois novos cineastas (Walter Salles e Emiliano Ribeiro), dois filmes em cartaz, são, como se diz, "filmes de atriz", oferecendo personagens femininos à altura, não escadas da tara masculina. Em "Terra Estrangeira", a força de Fernandinha Torres em cena, disposta a furar barreiras à bala. Em "As Meninas", três atrizes desafiam os limites de ser mulher. O filme é sensível, delicado e gentil. Três atrizes lindas, três lados, a ingenuidade platônica de Adriana Esteves, a loucura à tona de Cláudia Liz e a utopia em ironia de Drica Moraes. É um filme para se sair apaixonado pelas três personagens. E pelas atrizes, óbvio.

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