São Paulo, terça-feira, 12 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Exército doa áreas indígenas e ecológicas para reforma agrária

HELCIO ZOLINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Metade dos cerca de 6,2 milhões de hectares doados pelo Exército ao Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) foi considerada imprestável para o assentamento de colonos, segundo avaliação preliminar realizada pelos técnicos do órgão federal.
Cerca de 2 milhões de hectares encontram-se localizados em áreas indígenas e de preservação ecológica, espalhadas pelos Estados de Roraima, Pará, Mato Grosso e no Amazonas.
As áreas ofertadas pelos militares compreendem ainda terras devolutas situadas na faixa de cem quilômetros de largura em cada lado do eixo das rodovias da Amazônia Legal e na faixa de fronteira.
Também de acordo com a análise inicial promovida pelo Incra, a outra metade não apresentaria problemas.
Mas para poder utilizar esses cerca de 3,1 milhões de hectares (área correspondente a quase cinco vezes o tamanho do Distrito Federal), os técnicos terão ainda que realizar consultas ao Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) e à Funai (Fundação Nacional do Índio).
As consultas só deverão ocorrer a partir do mês que vem, segundo o diretor de Cadastro do Incra, Eduardo Freire.
O chefe da Casa Militar, general Alberto Cardoso, em ofício encaminhado no início de novembro ao então presidente do Incra, Francisco Graziano, e ao qual a Folha teve acesso, admitiu o problema.
Ele disse que o Exército, além de ter dificuldade em preservar as áreas, não tinha mais interesse em mantê-las sob sua jurisdição.
Os principais problemas encontram-se em Caracaraí, em Roraima, onde o Exército ofertou 623,9 mil hectares situados numa estação de preservação ecológica.
Em Altamira (PA), a maior parte da área de 315,7 mil hectares localiza-se na reserva indígena dos kararaôs.
Na região de Itaituba (PA), o Exército doou 870 mil hectares, onde vivem os índios mundurukus.
Foram colocados ainda à disposição do Incra 188,7 mil hectares localizados no município de Presidente Figueiredo (AM), terra dos waimiri-atroaris, que vivem numa reserva de 2,5 milhões de hectares.
A maior parte (cerca de 1,3 milhão de hectares) da área passível de ser utilizada para reforma agrária está localizada na Serra do Cachimbo, no sul do Pará.
Os 1,8 milhão de hectares restantes espalha-se pelos Estados de Rondônia (Vilhena e Guajará-Mirim), Mato Grosso (Barra do Garças e Porto Espiridão) e Tocantins (Miracema do Norte, Araguaína e Nova Olinda).
Manifestação
Cerca de 4.500 agricultores sem-terra, segundo os organizadores e a PM, realizaram ato público pela reforma agrária ontem à tarde em Palmeira das Missões (348 km a noroeste de Porto Alegre-RS).
Os participantes do ato público se deslocaram de 5 dos 6 acampamentos montados pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), em diferentes municípios do Estado no último dia 1º, com o objetivo de pressionar o governo a acelerar os assentamentos de famílias de sem-terra.
Até o fim da tarde os sem-terra não tinham decidido se manteriam os acampamentos em Sarandi, Frederico Westphalen, Cruz Alta, Santo Ângelo e Novo Barreiro ou se adotariam outra estratégia de pressão.

Colaborou a Agência Folha

Texto Anterior: Corregedor pede quebra de sigilo
Próximo Texto: Sobe para 52 o número de suicídios de kaiowás
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.