São Paulo, terça-feira, 12 de dezembro de 1995
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Trent d'Arby promete vir ao Brasil em 96

MARISA ADÁN GIL
DA REVISTA DA FOLHA

Terence Trent d'Arby pretende voltar a tocar no Brasil em 1996. Falando pelo telefone de sua casa em Los Angeles, o cantor novaiorquino disse está procurando uma "desculpa" para vir ao país.
"Estou em meu melhor momento como performer. Seria um show bem melhor do que aquele que eu fiz em 90", disse. D'Arby fez duas apresentações no Hollywood Rock daquele ano.
Não chegou a empolgar crítica e público, mas aproveitou a viagem -foi tocar bateria na quadra da escola de samba Mocidade Independente, no Rio. "Lembro que tomei algumas cervejas e passei uma das noites mais divertidas da minha vida".
Há duas semanas, o cantor encerrou a turnê que fez pela Europa e Estados Unidos para promover o lançamento do álbum "Vibrator". Embora bem-recebido pela crítica, o disco não emplacou nas paradas. D'Arby parece não se importar. "Não tenho certeza se ainda há espaço para mim na cena pop. Não tenho controle sobre isso. Só sobre a minha música".
O cantou tentou vir ao Brasil em 95, mas encontrou resistência por parte da gravadora. "Eles acham que é muito caro, querem que eu faça viagens promocionais, só para entrevistas. Mas isso eu posso fazer aqui na minha casa. Promoção é superestimada".
Desde 87, ano de lançamento de "Introducing the Hardline According to Terence Trent d'Arby" (sua estréia), o cantor tenta recuperar popularidade e prestígio perdidos. Nunca conseguiu.
Pagou o preço de uma das maiores jogadas de marketing da década. Entre 87 e 88, o cantor, então radicado em Londres, abasteceu a imprensa com declarações bombásticas, do tipo "sou um gênio" e "esse é o melhor disco da década". Emplacou hits como "Wishing Well", "Sign Your Name" e "If You Let Me Stay". Vendeu 4 milhões de cópias no mundo todo.
Com o experimental "Neither Fish, Nor Flesh" (1989), veio o desastre: críticas ambíguas, fracasso comercial. O gênio levou quatro anos para lançar outro disco. "Symphony or Damn", de 1993, retomava a linha de "Introducing...", mas teve só um hit, a bossanovística "Delicate".
O trauma ficou. "Não leio jornais há seis anos. Um fala que você é Deus, o outro diz que você é o diabo. Isso acaba influenciado o conceito que você tem de você mesmo. Geralmente, você não é tão bom quanto as pessoas dizem, nem tão ruim. A verdade está em algum ponto no meio".
Se lesse, teria que aguentar as comparações com Prince e com o rival Lenny Kravitz -que herdou boa parte do seu público soul/funk. "Gosto do trabalho deles, mas não sei se faço a mesma coisa. Podem chamar de soul, de funk, mas também podem chamar de rock".
Os três músicos têm em comum o costume de tocar todos os instrumentos em seus discos. "Fazemos parte de uma mesma geração, influenciada pelo cinema de autor de diretores como Buñuel, Fellini e Louis Malle. Por isso, tocamos a maior parte dos instrumentos. Queremos manter a nossa visão tão pura quanto possível".
D'Arby tem outro bom motivo para vir ao Brasil: quer completar sua discografia de Tom Jobim. "Foi um choque saber da sua morte. Ele é um dos meus heróis".

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