São Paulo, terça-feira, 12 de dezembro de 1995
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Livros de Nooteboom ganham edição nacional

MARILENE FELINTO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O lançamento no Brasil de dois romances do escritor holandês Cees Nooteboom, 62, -"A Seguinte História:" e "Rituais" (Editora Nova Fronteira)- abre uma fresta no desconhecido mundo da literatura holandesa contemporânea, tão desconhecido que a tradução para o português foi feita da edição em francês.
A obra de Nooteboom é a literatura de um viajante. Suas viagens, muitas reais, outras apenas fictícias, são a mania desse "holandês voador", como ele se define.
Ganhador do Prêmio Literário Europeu de melhor romance de 1993, com "A Seguinte História:", Cees Nooteboom, também poeta, ensaísta e autor de diários de viagem, é considerado um dos grandes da literatura holandesa contemporânea.
O escritor disse à Folha, em entrevista por fax, de Berlim, que escrever em holandês é como escrever em língua secreta.
"Algumas línguas são prisões, e poemas aprisionados encontram-se atrás de barreiras duplas", afirmou. Ele falou de seus livros e dos vínculos de seus personagens com a Amazônia e Portugal.

Folha - Em seu romance "A Seguinte História:", o personagem, que se identifica com Fernando Pessoa, dorme certa noite em Amsterdã e acorda em Lisboa. Por que Portugal?
Cees Nooteboom - Eu adoro a sonoridade do português e entendo grande parte da língua quando leio, porque falo espanhol. Estive em Lisboa pela primeira vez em 1954 e depois em 1957, abrindo meu caminho para a América Latina como marinheiro de uma pequena fragata holandesa, episódio que me ajudou a escrever a viagem do personagem Mussert pelo Atlântico, 40 anos depois.
Folha - A viagem ficcional de um holandês, a partir da Holanda para Portugal e depois para a América do Sul, seria uma retomada das conquistas holandesas do século 17?
Nooteboom - Na minha primeira viagem (para a América do Sul), eu fui ao Suriname. Mais tarde, ao Brasil várias vezes, a São Paulo, Brasília e à Bahia. Mas em 1980 viajei pelo Norte, Manaus, rios Negro e Amazonas. Então, não é puramente ficcional. Por outro lado, escrevi um livro sobre a Bulgária de 1879 sem nunca ter estado lá, e muito menos em 1879. Tanto os aventureiros holandeses quanto eu vivemos em um país muito pequeno para nos segurar por muito tempo. Era assim no século 17, embora por motivos diferentes, e ainda o é.
Folha - Alguns críticos acham sua literatura muito européia e metafísica.
Nooteboom - Sim, eu sou um europeu, o que não significa que por isso meu trabalho seja especialmente bem-sucedido na Europa. Eu tive muita sorte na Alemanha, porque um dos maiores críticos de lá gostou de "A Seguinte História:" e disse isso na TV. Mas o livro está sendo traduzido para o coreano, o japonês, o islandês e o estoniano. A metafísica é compreendida em todos os lugares.

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