São Paulo, terça-feira, 12 de dezembro de 1995
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Keynes conta histórias de um Stone marginal

SYLVIA COLOMBO
DA REDAÇÃO

Bob Keys estava tocando com os olhos fechados quando um homem foi morto na platéia durante o show dos Stones em Altamont, em 6 de dezembro de 69. "Foi o dia mais horrível da minha vida", lembra. "O terror tomou conta da banda e do público."
A história dos Stones e a sua se confundem em suas lembranças. Numa conversa exclusiva com a Folha, ele falou sobre Voodoo Lounge, sua nova vida no Brasil e sobre os 23 anos acompanhando a maior banda de rock do planeta.

Folha - Como vai ser Voodoo Lounge, o retorno?
Keys - Completamente diferente do Voodoo Lounge que o Brasil já viu. Os Stones são incapazes de fazer a mesma coisa duas vezes.
Folha - Por que a banda decidiu voltar?
Keys - Mick Jagger e Keith Richards adoraram a América Latina, foram os melhores shows da turnê.
Folha - Quando você começou a tocar saxofone?
Keys - Aprendi quando estava na escola, aos 12 anos. Quando fiz 16, parti para Nova York e comecei a tocar em clubes e a viajar. Ia aonde me chamassem, tocava por qualquer preço.
Folha - Foi numa dessas viagens pelos EUA que você conheceu os Rolling Stones...
Keys - Sim, foi em 64, estava num hotel no interior. Acordei no meio da tarde ouvindo barulho na piscina. Dois rapazes brincavam com as garotas. Desci por curiosidade e comecei a provocá-las junto com eles. Até que me perguntaram quem eu era. Disse que era músico e estava ali com uma banda. Eles disseram simplesmente: "nós também". Depois descobri, eles eram Brian Jones e Keith Richards. E foram me ver tocar naquela noite.
Folha - Qual foi sua primeira gravação com os Stones?
Keys - Foi no disco "Sticky Fingers" (71), quando fui testado.
Folha - Como assim?
Keys - Mick rodou a fita de "Brown Sugar" e disse: "Você pode fazer um solo em algum lugar desta música?". Respondi que era só apontar onde. Richards me pegou de surpresa, mostrando onde começar e onde parar. Ficaram quietos ouvindo e só fiquei sabendo depois que eles tinham gostado.
Folha - Brian Jones também tocava um pouco de sax. Você só passou a tocar efetivamente na banda depois que ele morreu. Você se sente seu herdeiro de alguma forma?
Keys - Não. Os Stones são um núcleo fechado em torno de Keith e Mick. Naquela época era Keith, Mick e Brian. Eles eram o coração. Eu só apareci como free-lance. E continuará sendo assim.
Folha - Alguns músicos entraram na banda depois da sua formação original e são conhecidos como Stones, como Ronnie Wood e Bill Wyman. Outros também entraram depois mas não merecem este título, como você ou Darryl Jones. Por quê?
Keys - Não existe critério nenhum. A decisão é a vontade de Mick e Keith. Eles definem quem é e quem não é da banda, assim como definem o que vamos tocar, para onde viajaremos, de que jeito, se ensaiamos ou se descansamos. Enfim, eles mandam em tudo. A banda é, antes de tudo, a vontade de Mick Jagger.
Folha - Até onde vai a megalomania da banda?
Keys - Até onde o dinheiro puder comprar. Eles sempre quiseram tudo grande. A diferença é que agora eles têm dinheiro. Se querem um telão, é o maior do mundo, se querem bonecos infláveis, são os melhores, se o palco é o mais caro, eles compram. Mick faz tudo pelo espetáculo.
Folha - A banda hoje é mais profissional do que no passado. Você acha que os Stones perderam a espontaneidade?
Keys - Os Stones são a banda que melhor prepara o seu produto hoje em dia. Gastam dinheiro e tempo na pré-produção. Mas uma coisa não mudou, eles compõem de uma forma caótica, geralmente reunidos durante alguns dias em algum canto do mundo. Podem fazer dezenas de músicas em menos de uma semana.
Folha - Como é a preparação antes do show?
Keys - Antigamente tomávamos todas. Agora só tomamos algumas...
Folha - Qual tem sido sua relação com a música brasileira?
Keys - Estou caçando músicos de apoio para tocar junto, gente do blues e do rock. Ouvi samba e adorei. Agora sou fã da Alcione.

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