São Paulo, quarta-feira, 13 de dezembro de 1995
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Sérvios da Bósnia libertam os dois pilotos franceses

VINICIUS TORRES FREIRE
DE PARIS

Os sérvios da Bósnia libertaram ontem os dois pilotos franceses que mantiveram presos por 104 dias. Amanhã, será assinado em Paris o acordo de paz entre bósnios, croatas e sérvios, negociado nos EUA.
O Mirage 2000 do capitão Frederic Chiffot e do tenente José-Manuel Souvignet foi abatido no dia 30 de agosto perto de Pale em missão da Otan (aliança militar ocidental) contra os sérvios.
Eles conseguiram saltar de pára-quedas, mas foram presos no mesmo dia por milicianos sérvios. "Fui tratado muito bem, como vocês podem ver", disse Souvignet logo depois de ser libertado. "Tive dor na perna, mas eles tinham médicos muito bons."
Chiffot e Souvignet chegaram ao aeroporto militar de Villacoublay, perto de Paris, às 19h30 (16h30 no horário de Brasília).
Foram recebidos pelo presidente francês, Jacques Chirac, e pelas suas famílias. Foi o próprio presidente que telefonou às mulheres dos pilotos para dizer que eles tinham sido libertados.
Na noite de ontem, estavam sendo examinados no hospital Val de Grace, em Paris. Nas imagens mostradas pela televisão francesa pareciam estar em boa saúde, ainda que abatidos.
Souvignet mancava um pouco. "Me machuquei na queda", disse em entrevista à TV. Os dois trouxeram radiografias realizadas pelos médicos sérvios.
No começo da tarde, os militares franceses foram entregues ao chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Francesas, Jean-Philippe Douin, em Zvornik, cidade do nordeste da Bósnia em território sérvio, perto da fronteira com a Sérvia.
O comandante militar dos sérvios da Bósnia, Ratko Mladic, exigiu a presença de Douin.
A "cerimônia" de entrega dos dois pilotos foi realizada num hotel de estrada. Mladic deu "tapinhas" nos rostos de Chiffot e Souvignet quando os dois entravam na sala onde eram negociados os últimos detalhes da libertação.
"Espero que vocês se recuperem rápido e voltem a pilotar, apesar das intenções de paz do seu governo", disse o general sérvio.
O Tribunal da ONU para Crimes de Guerra na ex-Iugoslávia, sediado em Haia (Holanda), acusou Mladic por crimes de guerra.
A TV francesa mostrou ontem imagens dos dois militares franceses entre milicianos sérvios no dia de sua captura.
As imagens foram cedidas pela TV sérvia e praticamente confirmam suspeitas de que o "governo" dos sérvios da Bósnia sabia onde estavam presos os aviadores.
Diplomatas russos citados pela agência de notícias "Reuter" dizem que Chiffot e Souvignet corriam risco de vida até as últimas horas antes da libertação.
"As negociações com o grupo que mantinha os dois pilotos foram delicadas", disseram.
O presidente Jacques Chirac fez ontem um discurso na TV francesa agradecendo a colaboração que obteve para liberar os militares.
Chirac mencionou o presidente da Sérvia, Slobodan Milosevic, o presidente russo, Boris Ieltsin, e diplomatas franceses, americanos e de outros países aliados. Chirac agradeceu "especialmente" ao presidente Ieltsin.
"Hoje tenho certeza de que estou junto com todo o povo francês ao prestar homenagem à coragem dos pilotos e quero compartilhar a alegria de seus familiares", disse Chirac na TV.
Na semana passada, a França ameaçou os sérvios com um ultimato. Domingo passado expirava o prazo para que os sérvios dessem informações sobre o destino dos dois pilotos.
O governo francês chegou a insinuar que, se os pilotos não fossem liberados, a assinatura do acordo de paz amanhã em Paris poderia ser ameaçada.
O ministro das Relações Exteriores da França, Hervé de Charette, disse que não houve nenhum acordo para a libertação dos pilotos. "Não fizemos concessão."
Diplomatas franceses diziam ontem que Milosevic pesou na liberação. O temor da retomada das sanções econômicas ao país, que estão suspensas, teria sido decisivo para Milosevic.

Com agências internacionais

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