São Paulo, quarta-feira, 13 de dezembro de 1995
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Infância assassinada

O relatório "Situação Mundial da Infância", divulgado anualmente pelo Unicef, a agência da ONU para a infância, não traz boas notícias para o Brasil em sua mais recente versão. Os dados referentes à mortalidade infantil de crianças entre 0 e 5 anos continuam a colocar o país em 63º pior lugar do mundo, num ranking de 150. No Brasil, 61 de cada 1.000 crianças nascidas vivas morrem antes de completar 5 anos.
Um otimista diria que o país, pelo menos, está na metade superior da lista. É verdade, mas a comparação fica cruel quando se considera que alguns dos campeões (Nigéria, 320 por mil; Moçambique, 277 por mil) exibem uma renda per capita anual inferior aos US$ 300, contra os quase US$ 3.000 do Brasil.
Nos cálculos do representante do fundo para o Brasil, Agop Kayayan, com esse desenvolvimento econômico, o índice nacional deveria estar entre 15 e 20 por mil. Nas Américas, só morrem mais crianças haitianas e bolivianas que brasileiras.
Se a guerra civil em Angola serve para justificar seu índice de 292 por mil, nem toda a barbárie da Bósnia conseguiu colocá-la ainda em nível inferior ao Brasil. Aqui, não se morre por pisar em minas perdidas ou por balas de franco-atiradores, mas por outras causas mais facilmente evitáveis como a diarréia.
Nem tudo, porém, é motivo para pânico. O próprio Unicef elogia o diagnóstico que o Brasil faz da situação de suas crianças e aponta o Estatuto da Criança e do Adolescente como um dos melhores documentos do gênero do mundo. Como sempre, resta apenas passar das leis e idéias à ação.

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