São Paulo, quinta-feira, 14 de dezembro de 1995
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São Paulo descobre a qualidade

LUÍS NASSIF

Assim que Vicente Falconi Neto passou a explicar princípios dos programas de qualidade, o governador paulista Mário Covas começou a se mexer na cadeira. Pegou papel, anotou ponto por ponto e, à medida que os conceitos iam clareando, abriu um sorriso largo.
Quando o consultor da Fundação Cristiano Ottoni (ligada à Universidade Federal de Minas Gerais) -e principal incentivador dos programas de qualidade do Brasil- terminou a exposição, a religião da qualidade havia conquistado sua mais importante adesão desde que começou a mudar a face do Brasil, no início dos anos 90.
Covas descobriu finalmente a agenda positiva que faltava ao seu governo. Antes dele, o governador Antônio Britto, do Rio Grande do Sul, já havia descoberto o método. Empresários gaúchos modernos passaram a financiar o programa de qualidade do governo, certos de que, bem-sucedido, poderá catapultar seu governador para vôos políticos mais altos. Santa Catarina já seguiu o mesmo caminho, assim como Minas.
Não há fórmulas mágicas. Apenas um método de análise -mais que isso, um método de vida- de identificar problemas, discutir propostas e sistematizar soluções, envolvendo no trabalho todos os participantes, num verdadeiro exercício de formação de cidadania.
Escola mineira
Anos atrás, com seu estilo missionário, Falconi procurou uma escola pública em Belo Horizonte e se ofereceu para montar um programa de qualidade como forma de compreender o setor.
Reuniu os professores, identificou os problemas, definiu uma meta (reduzir os índices de repetência de 45% para 10% em cinco anos), acertou um projeto e conseguiu financiamento de uma empresa privada para remodelação da escola e instalação de uma quadra de esportes -uma mixaria bancada de bom grado pelo empresário.
Em menos de três anos, os índices de repetência caíram para 8%. A nova apresentação da escola estimulou os alunos, que aproveitaram o espaço remodelado para uma série de atividades artísticas e esportivas. A principal escola privada da região perdeu mais de 20% dos alunos para a escola pública -feito inédito no Brasil atual- e tratou de construir sua quadra de esportes.
A Unicef soube do caso e obteve junto ao Banco Mundial verba de US$ 300 milhões para o governo mineiro estender a experiência a toda a rede escolar mineira. Em poucos anos, atingidas as metas alcançadas pela escola-piloto, haverá a criação de 750 mil novas vagas na rede sem a necessidade de erguer um só prédio escolar.
A experiência mineira gerou uma série de demandas para a Cristiano Ottoni. A Bahia e o Maranhão já encomendaram estudos semelhantes.
Apenas o governo federal não se mexe. Os programas de qualidade, iniciados no governo Collor, foram praticamente abandonados pelo governo Itamar e pelo atual governo.
Securitização
O secretário de Política Agrícola, Guilherme da Silva Dias, contesta dados de que a securitização da dívida implicará no comprometimento de 27% das safras futuras. Explica que apenas os setores mais endividados devem uma safra e meia -e estão fora da securitização, que atinge apenas financiamentos de até US$ 200 mil. Lembra que parte desse endividamento se deu em anos em que os agricultores obtiveram crédito equivalente a mais de 150% do tamanho de sua lavoura.
Carniça
A crueldade fria e sistemática com que a imprensa está procedendo ao linchamento da atriz Vera Fischer ainda vai ser comparada ao episódio da Escola Base -assim que resultar na tragédia previsível que se desenha.

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