São Paulo, quinta-feira, 14 de dezembro de 1995
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Luz e Sombra duelam em 'Taxi Driver'

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Em "Taxi Driver" (CNT/Gazeta, 22h30), Scorsese faz a câmera deslizar à noite, com suavidade, embalada em música, num conjunto de luz e sombra apocalíptico.
Vemos um mundo que acaba e temos o direito de perguntar que mundo é esse. É a América do Vietnã que desfila ali, fazendo conviver a dor do crepúsculo e as esperanças da aurora.
Mas, antes, existe Travis (De Niro), o veterano de guerra, o homem que busca um sentido para sua vida e encontra-o quando se atribui a missão de proteger uma jovem prostituta Iris (Jodie Foster) de seu protetor e de si mesma.
Daí por diante, a cidade será vista como antro de perdição, onde a liberdade confunde-se com o vício. Onde tudo, para resumir, é um vasto mal-entendido. É o "pendant" interno do Vietnã.
Daí por diante, também, é uma questão de fé. Não dá para esquecer que Martin Scorsese é um católico, que o roteirista Paul Schrader é um protestante. A dupla que ambos formaram baseou parte de seu êxito nesse ecumenismo que buscou força no misticismo de Schrader e na crença de Scorsese nas imagens. "Taxi Driver" é um filme em que as imagens têm luz e os personagens, não.
Estamos em um mundo privado da graça, da possibilidade de redenção. Disso vem sua dureza atribulada. Ao mesmo tempo, ainda que negado, ignorado, é um mundo de que Deus não está ausente. Ele não é o pai cruel e inflexível dos filmes de Robert Bresson. Está mais próximo do Deus capaz de, do nada, produzir um milagre. Mas esse milagre, se é possível, ficou para outro filme.
(IA)

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