São Paulo, quinta-feira, 14 de dezembro de 1995
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Parlapatões fazem de Brincante seu picadeiro

MÔNICA RODRIGUES COSTA
EDITORA DA FOLHINHA

O grupo Parlapatões, Patifes & Paspalhões, com Hugo Possolo, Alexandre Roit e Raul Barreto, representa com virtuose, no teatro Brincante, "Nada de Novo", espetáculo cômico que usa técnicas circenses para contar histórias.
"Nada de Novo" tem a mesma linha dos espetáculos, também do grupo e em cartaz até o dia 23, "Sardanapalo" e "Bem Debaixo do Seu Nariz" (infantil).
O picadeiro faz rir com piadas e conversas de palhaços. Os atores têm os rostos maquiados no tom do figurino. São palhaços que trabalham em um circo revisitado. A trilha sonora, por exemplo, mescla Bob McFerrin, Ravel, Village People, Mutantes e Prince.
Donos do improviso, controlam as reações da platéia, mas partem de um repertório fixo, brincam com clássicos de teatro, como no quadro "Chapéu" (Karl Valentin). No "Prólogo", falas de Shakespeare, Brecht e Groucho Marx misturam-se a texto próprio.
A ironia é o motor de "Nada de Novo", o elemento devorador de linguagens, do distanciamento brechtiano às apropriações e demolições antropofágicas, ao estilo de Oswald de Andrade. Como a interpretação das canções "Emoções" (Roberto Carlos) e "Nada Além" (Orlando Silva), que comentam e debocham da ilusão que o teatro tem por meta provocar.
Os atores brincam com gêneros, fazem malabarismos -até no escuro, como as cenas de Roit e Barreto, brilhantes, com bolas, garrafas e facas. O texto flui nos gestos ágeis e na voz bem colocada, ganha ritmo -uma das maiores qualidades da representação, apontada por Richard Boleslavski (anos 30).
O ritmo "impõe mudanças, mensuráveis e ordenadas, que estimulam progressivamente a atenção do espectador". Para esse professor e diretor de teatro, são atores "Amostra A", seja no quadro "Aula de Fazer Rir", baseado em número de Hollywood do Monthy Phyton, ou na pantomima e dublagem sobre Gil Gomes.
Possolo faz, com naturalidade, sotaque português, voz feminina em falsete e sotaque do interior de São Paulo, tem desenvolvido "senso de ritmo", transita com mestria de um estilo a outro.
Além da ironia, o absurdo corre solto. Afiados nos diálogos, os atores conduzem a platéia ao ambiente da comédia, produzida com chistes e duplos sentidos -é o próprio fazer do teatro em jogo.

Peça: Nada de Novo
Direção, roteiro e elenco: Alexandre Roit, Hugo Possolo e Raul Barreto
Onde: Teatro Brincante (rua Purpurina, 428, tel. 011/816-0575)
Quando: Quintas e sextas, às 21h30

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