São Paulo, quinta-feira, 14 de dezembro de 1995
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China condena dissidente político a 14 anos

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

O principal ativista pró-democracia da China, Wei Jingsheng, 46, foi condenado ontem em Pequim a 14 anos de prisão, acusado de "conspiração para tentar derrubar o governo comunista". Ele já passou 16 anos preso.
No poder desde 1949, o Partido Comunista não admite oposição e controla o sistema judiciário.
O PC acusou Wei, um eletricista e ex-comunista radical, de montar um "esquema ilegal" para levantar fundos que financiassem "atividades subversivas".
Considerado o "pai do movimento pró-democracia" na China, Wei defendia a tese da "quinta modernização", ou seja, adoção de um sistema pluripartidário.
As "quatro modernizações" são a tese do líder comunista Deng Xiaoping para implantar reformas pró-capitalismo. Mas elas não pregam mudança no monopólio do poder exercido pelo PC.
No julgamento, Wei enfrentou as acusações de publicar na imprensa estrangeira críticas ao governo chinês, de defender a independência do Tibete (sob controle de Pequim) e de "planejar a derrubada do governo com dissidentes que vivem no exterior".
O dissidente foi acusado de promover exposições de arte "para levantar fundos para uma causa subversiva". A pena prevê ainda perda dos direitos políticos por três anos. De acordo com as leis chinesas, Wei poderia ter sido condenado à morte.
No final dos anos 60, o hoje dissidente Wei atuou como um "guarda vermelho", ativista na Revolução Cultural (1966-1976), período de radicalização do regime comunista promovida pelo então dirigente Mao Tse-tung.
Em março de 1979, a polícia prendeu Wei, sob a acusação de "contra-revolucionário" e de ter vendido a um jornalista estrangeiro segredos militares.
Wei pegou 15 anos de prisão. Passou por campos de trabalhos forçados. Perdeu a maioria dos dentes devido à má-alimentação.
Em setembro de 1993, seis meses antes do fim da pena, Wei foi solto. A China queria melhorar sua imagem internacional para sediar os Jogos Olímpicos do ano 2000.
Vivendo sob vigilância da polícia, Wei não desistiu da atividade pró-democracia. Ele havia desaparecido em 1º de abril de 94, após encontro com um representante do governo norte-americano.

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