São Paulo, quinta-feira, 14 de dezembro de 1995
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Meninas são cultuadas como deusas vivas

IGOR GIELOW; LUIZ HENRIQUE RIVOIRO

Adolescentes são escolhidas para se tornarem uma Kumari Devi, divindade que tem origem no século 18
No Nepal e do enviado especial
O Nepal talvez seja um dos poucos países no mundo que venera uma deusa viva, isto é, de carne e osso.
Em pleno coração de Kathmandu, na Durbar Square, fica o templo conhecido como Kumari Bahal, onde vive com a família a pequena deusa Kumari Devi.
Não se sabe ao certo a origem desse costume, mas diz uma das lendas sobre o assunto que o rei Jaya Prakash Malla, por volta de 1760, teria tido relações sexuais com uma pré-adolescente.
A criança teria morrido e o rei teria criado a figura de Kumari Devi e imposto sua adoração em sinal de penitência.
Desde então é escolhida entre as meninas do país uma criança entre 4 e 5 anos que atenda a 32 quesitos pré-estabelecidos, como cor dos olhos, formato dos dentes, som da voz e mapa astral.
Se a garota passa por esse primeiro teste, é então submetida a uma série de provas parecidas àquelas impostas aos meninos que são considerados reencarnações dos lamas budistas.
Na mais aterradora, as candidatas são colocadas juntas em uma câmara escura onde sons estranhos, gritos e homens usando máscaras e cabeças de búfalo tentam amedrontrá-las.
A verdadeira Kumari se mantém calma e impassível.
Na última prova, ela deve reconhecer os verdadeiros objetos pessoais de sua antecessora em meio a outros falsos -como no filme "O Pequeno Buda", de Bernardo Bertolucci.
No templo de Kumari, onde a entrada é gratuita, não são permitidas fotos. Ela aparece de vez em quando à janela do segundo andar toda paramentada com jóias, pintura no rosto e roupas brilhantes, mas não fala ou demonstra qualquer tipo de emoção.
Ela só pode ser verdadeiramente adorada pelo povo e fotografada em alguma das seis vezes do ano que desfila carregada pelas ruas de Kathmandu.
O reinado da deusa Kumari Devi termina quando chega a sua primeira menstruação.
A partir daí ele se torna uma mortal comum e, diz outra lenda, o homem que com uma ex-deusa se casa é infeliz para sempre.
(Igor Gielow e Luiz Henrique Rivoiro)

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