São Paulo, sexta-feira, 15 de dezembro de 1995
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Crise põe em xeque autoridade de FHC

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A crise que se instalou na base congressual do governo é uma das mais sérias desde a posse de Fernando Henrique Cardoso, em janeiro. Dessa vez, está em xeque a própria autoridade do presidente.
Na raiz da crise, está a sensação, disseminada entre os líderes partidários, de que o presidente não comanda o próprio governo. Impressão reforçada pelos vazamentos que deram origem à crise do "grampo" e ao caso da pasta cor-de-rosa.
O que torna a crise atual diferente das demais é que o governo se indispôs com alguns dos mais influentes formadores de opinião do Congresso, entre eles os presidentes José Sarney (Senado) e Luís Eduardo Magalhães (Câmara), o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) e o deputado Delfim Netto (PPB-SP).
"Um presidente que não comanda a própria equipe não conseguirá manter unida sua base no Congresso", diz, em seus diálogos reservados, o senador Antônio Carlos Magalhães. O raciocínio foi desenvolvido por ACM em conversa com o próprio FHC.
Por trás da crise há mais do que pastas rosadas e "grampos" telefônicos. Decidido a transformar-se no maior partido do país, o PSDB investe pesadamente em quadros do PMDB e do PFL. O arquiteto da investida é Sérgio Motta, ministro das Comunicações.
Em diálogo com Luís Eduardo, ontem, o peemedebista Sarney disse ter sido procurado por aliados do Maranhão. Informaram-lhe que vêm recebendo promessas de vantagens para ingressar na legenda tucana. Sarney acha que o governo brinca com fogo. Queixou-se ao vice-presidente Marco Maciel.
Nas últimas 48 horas, Sérgio Motta desenvolve um infrutífero esforço para conter a ira de Luís Eduardo Magalhães. Até a última semana, o presidente da Câmara era o principal aliado do Planalto.
Agora, o mínimo que Luís Eduardo tem dito sob a proteção de quatro paredes é que se sente "sacaneado" pelo governo. O que mais o irritou foi a forma sorrateira como o dossiê da pasta cor-de-rosa escorregou de um cofre do Banco Central para as páginas dos jornais.
A última vez que falou com Fernando Henrique foi na quinta-feira da semana passada. O presidente disse que, na sua opinião, o vazamento foi patrocinado ou pelo interventor do Econômico, Francisco Flávio Barbosa, ou pelo próprio Ângelo Calmon de Sá, ex-dono do banco.
Assim como ACM, seu pai, Luís Eduardo não acredita nessa versão. Acha que a pasta vazou mesmo da sede do Banco Central, em Brasília. Tem dito a todos que o governo vem lhe dispensando um tratamento de inimigo.
Outro ponto que vem azedando as relações do governo com o PFL é a demora na definição do caso do Banco Econômico. ACM diz não entender por que o Banco Central ainda não fechou negócio com o Excel.
Queixa-se também, sempre sob reserva, do comportamento de Pedro Malan, ministro da Fazenda. Embora o Banco Excel tenha formalizado proposta de compra do Econômico, Malan parece disposto a aguardar que se concluam os entendimentos com dois grupos que agem em conjunto: o Bozano, Simonsen e o Opportunity.
O Excel informou a ACM que, se levar o Econômico, manterá praticamente a estrutura atual do banco. Tentará limitar o número de demissões. Manterá as agências instaladas em solo baiano.
O Bozano/Opportunuty tenciona promover um enxugamento do Econômico. Fará muitas demissões e fechará as agências baianas.

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