São Paulo, sexta-feira, 15 de dezembro de 1995
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Governo e OIT fazem críticas

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

A iniciativa da Abrinq recebe aplausos e críticas de dois dos principais interessados no tema, o Ministério do Trabalho brasileiro e a OIT (Organização Internacional do Trabalho), organismo das Nações Unidas.
Paulo Paiva, ministro do Trabalho, diz que a idéia de investigar todo o ciclo produtivo coincide com a concepção do governo no que se refere ao trabalho escravo.
Mas acha que é "reducionismo" afirmar que a Petrobrás (por subsidiar o álcool) ou a indústria automobilística se beneficiam ou estimulam o trabalho infantil.
"É um problema muito mais complexo, que envolve desde necessidades familiares até uma tradição antiga no campo, passando, claro, por casos gritantes de exploração, como no setor de calçados", diz o ministro.
João Carlos Alexin, representante da OIT no Brasil, elogia a idéia de mapear toda a cadeia produtiva "para convencer os empresários a não comprar de quem utiliza mão-de-obra infantil".
Mas Alexin critica a divulgação de empresas que empregam mão-de-obra infantil, a ser feita pela Abrinq. Em assembléia na segunda-feira, dia 18, a Fundação Abrinq e um punhado de outras entidades devem divulgar uma lista dessas empresas.
"Não podemos apoiar a divulgação de uma lista de empresas, porque, primeiro, se deve dar a elas a oportunidade de colaborar."
O representante da OIT acha que não basta impedir o trabalho infantil. "É preciso dar uma alternativa para as crianças e para as famílias, porque o rendimento delas pesa no orçamento da casa."
É o mesmo argumento usado por Ademerval Garcia, presidente da Abecitrus, que reúne empresas exportadoras de suco de laranja.
A Abecitrus recusou-se a participar da iniciativa da Abrinq, sob a alegação de que suas filiadas não empregam crianças.
Mas também sob o argumento de que "é preciso ir à raiz do problema", assim descrita por Garcia: "A raiz é o fato de a renda do maior não ser suficiente para manter o menor na escola e nem sempre haver escola para o menor".
Além disso, a Abecitrus desconfia do que chama de "envolvimento político muito claro da Abrinq", em alusão ao fato de seu presidente, Oded Grajew, ser assumidamente do PT.
Grajew, de seu lado, diz que o lado denuncista da operação é menos relevante do que a iniciativa de propor uma solução.
Em busca de uma solução, já marcou, para o dia 20, dois dias depois da denúncia pública, uma audiência com Paulo Paiva, para discutir o assunto.
(CR)

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