São Paulo, sexta-feira, 15 de dezembro de 1995
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PFL e PMDB armam rebelião contra FHC

LUCIO VAZ; DENISE MADUEÑO; GUILHERME EVELIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os dois maiores partidos da base governista -PFL e PMDB- se uniram contra o governo. Eles reclamam que vêm sendo atingidos por escândalos produzidos no Executivo.
Listam o escândalo do Sivam, o vazamento da pasta cor-de-rosa e a cooptação de parlamentares pelo PSDB em troca de cargos como responsáveis pela crise política.
O PFL, especialmente, engrossa suas queixas com o caso Econômico, sem solução até o momento. O presidente do partido, Jorge Bornhausen, afirmou ontem que uma solução para a intervenção federal no banco baiano ajudaria na busca de um entendimento.
As consequências da crise serão refletidas no plenário da Câmara neste final de ano. O presidente da Casa, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), reuniu ontem os líderes do PMDB, Michel Temer (SP), e do PFL, Inocêncio Oliveira (PE), e acertou como será dado o troco ao governo.
Projetos de interesse do Palácio do Planalto serão protelados, enquanto outros que não interessam a FHC serão colocados em votação. A emenda constitucional da Previdência Social terá a sua tramitação retardada.
Luís Eduardo vai insistir em votar logo outra emenda constitucional que concede anistia a militares da Marinha não beneficiados pela anistia concedida pelo Congresso constituinte de 88. O governo queria adiar esse projeto.
Terminada a reunião no gabinete do presidente da Câmara, Inocêncio esquivou-se da imprensa. "O Temer está autorizado a falar em nome do PFL", afirmou aos jornalistas. O líder do PMDB fez, então, a defesa dos aliados.
"O PFL é um partido aliado, que deve ser tratado como tal. Se pede explicações ao governo no caso da pasta cor-de-rosa, tem de receber essas explicações. O governo deve buscar a unidade da sua base, que não existe hoje", afirmou Temer.
No centro da crise está o deputado Luís Eduardo. Ele afirma que o seu nome foi incluído indevidamente na lista de parlamentares que teriam recebido doações do Banco Econômico em 90 e que estariam na pasta rosa encontrada pelo Banco Central na sede da instituição baiana.
Os ministros tucanos Sérgio Motta (Comunicações) e José Serra (Planejamento) tentaram acalmar o presidente da Câmara na terça-feira à noite, em jantar no restaurante Piantella. O encontro não teve nenhum resultado prático.
"O Luís Eduardo continua muito irritado. O encontro com o Motta não resolveu nada", afirmou ontem o deputado Benito Gama (PFL-BA). Segundo Benito, que jantou anteontem com o presidente da Câmara, "a crise existe, não há como esconder".
A cooptação de parlamentares pelo PSDB está revoltando o PFL e o PMDB. Seus líderes afirmam que os tucanos fazem promessas de cargos e liberações de verbas para garantir adesões.
O deputado Luis Fernando Nicolau (AM) teria trocado o PMDB pelo PSDB em troca da indicação do administrador do porto de Manaus. O PSDB estaria, inclusive, usando o PPB como linha auxiliar na sua estratégia.
Ao mesmo tempo em que consegue novas adesões (já são 25 neste ano), o PSDB reduz as bancadas do PFL e do PMDB, com transferências para o PPB. O PMDB perdeu cinco deputados para o PPB nesta semana. Os tucanos querem ter a maior bancada no Congresso até o fim do ano.
O PMDB aliou-se ao PFL porque está insatisfeito com os desdobramentos do caso Sivam. O relator do projeto, Gilberto Miranda (PMDB-AM), foi atacado pelo governo nas últimas semanas.

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