São Paulo, sexta-feira, 15 de dezembro de 1995
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Torcedor é morto ao se perder no Rio

SERGIO TORRES; PAULO CÉSAR CASTRO; BETINA BERNARDES; ANDRÉ LOZANO
DA SUCURSAL DO RIO

Erramos: 16/12/95
O nome de Ronaldo Mattos Ferreira, torcedor morto em tiroteio no Rio, foi grafado incorretamente à pág. 3-1 ( Cotidiano) de ontem.
Um torcedor morreu e três ficaram feridos após serem metralhados ao entrarem por engano na favela Vila do João (zona norte do Rio), ontem de madrugada, depois da partida entre Santos e Botafogo.
Segundo depoimentos à polícia, o grupo, com 11 torcedores, deixou o Maracanã após o jogo rumo à Linha Vermelha (via entre a zona norte e a rodovia Rio-São Paulo). Seis deles estavam em um jipe Cherokee e cinco em um Vectra.
Como não sabiam o caminho, se perderam nos subúrbios cariocas, de acordo com Renato Pereira Júnior, 33, que dirigia o jipe.
A indicação de um taxista levou o grupo próximo à avenida Brasil (zona norte), perto das favelas Vila do João e Vila do Pinheiro. Segundo Pereira Júnior, uma placa caída confundiu o motorista do Vectra, Eudes Alecrim, 30, que entrou na Vila do João. O jipe o seguiu.
Ricardo Tadeu Carvalho Raposo, 30, que ia no banco traseiro do Vectra, disse que na entrada da favela havia um homem com uma metralhadora. Os ocupantes do carro ouviram um tiro. Sem poder retornar por causa do homem armado, os carros entraram na favela até que as rajadas de metralhadoras foram disparadas. Ao tentar fugir dos tiros, que vinham das duas favelas, os carros se chocaram.
Alecrim foi atingido na boca e no ombro direito. A seu lado, estava Ronaldo Ferreira Mattos, 32, que, baleado no rosto, morreu no hospital. Raposo foi para a frente e assumiu a direção do Vectra. Ele diz que pediu socorro a diversos moradores na tentativa de fugir.
"Ninguém quis ajudar com medo de represálias dos bandidos. Um morador disse que depois da meia-noite não entra carro na favela", afirmou Raposo. Ele disse que conseguiu chegar aos fundos da favela, junto à tela de arame da Linha Vermelha. Sem encontrar uma saída para o carro, ele e dois amigos conseguiram pular a tela, passando para o asfalto da via expressa. Eles deixaram no carro, bastante feridos, os amigos Alecrim e Ronaldo Mattos.
Cerca de dez minutos depois, orientados por um morador, os três voltaram para o Vectra e conseguiram alcançar a Linha Vermelha por um terreno baldio ao lado da estrada que liga a avenida Brasil à ilha do Fundão (zona norte).
O Cherokee, com a suspensão quebrada após o choque e o pneu dianteiro perfurado pelos tiros, continuou na Vila do João. Desesperado, Pereira Júnior disse ter descido do carro com as mãos para cima, gritando que eram todos torcedores. Segundo ele, havia de 35 a 40 criminosos armados com fuzis, metralhadoras e pistolas.
"Em cima de uma laje tinha uma metralhadora de tripé, capaz de derrubar avião", disse (leia texto ao lado). Liderados por um homem de 30 anos que se identificou como João, os traficantes revistaram os torcedores para verificar se não eram policiais ou rivais na venda de drogas na região.
Após a identificação dos torcedores, os traficantes os ajudaram a trocar o pneu do jipe e chegaram a fazer um mapa ensinando-os a sair da favela. Em troca, receberam camisas do Santos e alguns CDs. Pereira Júnior disse que ficaram na favela cerca de duas horas.
Os feridos foram levados para o hospital Souza Aguiar (centro), onde Mattos morreu e Alecrim foi operado e passa bem. Raposo, com um tiro de raspão no rosto, e seu irmão Márcio Sérgio, 29, baleado na mão direita, não ficaram no hospital. Sete dos 11 torcedores retornaram a São Paulo ontem pela manhã. O corpo de Mattos seguiria ainda ontem para Santos.

Colaboraram Paulo César Castro, free-lance para a Folha, e Betina Bernardes e André Lozano, da Reportagem Local.

LEIA MAIS
sobre o tiroteio na pág. 3

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