São Paulo, sexta-feira, 15 de dezembro de 1995
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Combate na Bósnia marca assinatura de paz

VINICIUS TORRES FREIRE
DE PARIS

Bósnios, croatas, sérvios e países líderes da Otan, a aliança militar ocidental, assinaram ontem em Paris o tratado de paz que pretende dar fim à guerra na Bósnia, um conflito que matou cerca de 200 mil pessoas em três anos e meio.
Enquanto a cerimônia se desenrolava na sede do governo francês, sérvios, muçulmanos (que controlam o governo da Bósnia) e croatas trocavam tiros esporádicos em alguns dos cenários do conflito, dando sinais de que a implantação do acordo será difícil.
Os presidentes da Sérvia, Slobodan Milosevic, da Croácia, Franjo Tudjman, e da Bósnia, Alija Izetbegovic, trocaram apertos de mão e sorrisos amarelos depois de assinarem em conjunto o texto do "Acordo de Paz da Bósnia-Herzegóvina", negociado sob o patrocínio americano em Dayton (EUA).
Em seu discurso na cerimônia, Izetbegovic disse "que sentia estar tomando um remédio amargo, mas indispensável".
O tratado de Dayton prevê a criação de uma Estado único na Bósnia-Herzegóvina, dividido, no entanto, entre uma federação de muçulmanos e croatas, com 51% do território, e uma entidade sérvia, com 49% dele.
A solução respeita a divisão territorial criada pela guerra e pela "limpeza étnica".
Sarajevo, a capital bósnia, será reunificada sob controle da federação muçulmano-croata. A unificação da cidade é dos pontos mais espinhosos do acordo de paz. Os sérvios da cidade não querem se submeter ao controle "inimigo".
Foram atiradas ontem quatro granadas sobre o setor muçulmano, junto à linha que divide a cidade. Duas granadas lançadas por obus (espécie de morteiro) caíram sobre outro bairro de Sarajevo. As bombas não deixaram feridos.
O governo bósnio diz que os tiros vieram de Grbavica, bairro sob controle sérvio. Sérvios, muçulmanos e croatas emitiram nota condenando o bombardeio.
No centro da Bósnia, milicianos muçulmanos entraram em choque com tropas croatas.
Perto de Sarajevo, um helicóptero francês da missão de paz da ONU foi atingido por quatro balas e escapou por pouco de um míssil antitanque.
Os franceses procuravam resgatar um grupo de 20 soldados bósnios bloqueados pela neve. Os tiros teriam sido disparados de um setor muçulmano de Sarajevo.
Numa tentativa de tornar a paz menos instável, os franceses procuraram negociar até a madrugada de ontem o reconhecimento mútuo dos Estados que compunham a Iugoslávia. Fracassaram. Apenas bósnios e sérvios da ex-Iugoslávia devem trocar embaixadores.
Os croatas se recusam a ceder aos sérvios uma saída para o mar em troca de um território junto a Dubrovink. Os sérvios dizem que não precisam de "reconhecimento", pois já eram um Estado (Iugoslávia) antes da guerra.
Com a recusa, os croatas procuram guardar um trunfo para as futuras negociações sobre a Eslavônia Oriental, último de seus territórios ocupado pelos sérvios.
Diplomatas franceses estimam que os resultados das conversações entre sérvios e croatas dever aparecer em no máximo dois meses.
Para a ONU, a Croácia não deve reaver a Eslavônia antes de dois anos. O órgão considera que a disputa pelo território pode provocar outra guerra e quer que a Otan envie um contingente para a região, o que até agora foi negado.
Além das partes em conflito, o acordo foi assinado por Clinton, Chirac, pelo chanceler Helmut Kohl, da Alemanha, e pelos premiês John Major, do Reino Unido, Viktor Tchernomirdin, da Rússia, e Felipe González, da Espanha, representando a União Européia.

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