São Paulo, sexta-feira, 15 de dezembro de 1995
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Contradição monetária

É óbvio que ao pedir maiores isenções do IR os bancos estão antes de tudo agindo em interesse próprio. Da parte do governo, porém, a eventual concessão de tal benefício, depois dos recursos do Proer, implica em certo sentido o reconhecimento de que o BC tentou arrochar a política monetária mais do era sustentável, e agora devolve os recursos sob a forma tortuosa de auxílio a bancos.
Não se trata de um acidente imprevisível. Os limites e contradições da ação dos bancos centrais são um tema antigo na literatura econômica e decorrem da própria natureza dessa instituição.
Na falta de uma política fiscal consistente, a função de preservar o valor da moeda exige do BC medidas de contenção do crédito e elevação de juros por determinados períodos. Mas a função de garantir a estabilidade do sistema financeiro por vezes impõe às autoridades monetárias o relaxamento dessas mesmas medidas de contenção.
Encarregado portanto de gerir dois objetivos potencialmente conflitantes, o Banco Central opera normalmente dentro de limites. Se relaxar demais, pode permitir o crescimento da inflação, se apertar excessivamente, põe o sistema em risco. Neste último caso, a atuação do BC acaba sendo contraditória. Retira de um lado o que é obrigado a repor de outro.
Parece ser essa a situação atual no Brasil. A rápida alteração no ambiente bancário mostra que, sem o ajuste fiscal, o arrocho monetário e as taxas de juros ditas "estratosféricas", "escorchantes" etc. estão agora cobrando a conta. O Banco Central cede. E a população paga.

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