São Paulo, sábado, 16 de dezembro de 1995
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SP pagaria mais sem acordo, diz Covas

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O governador paulista, Mario Covas (PSDB), disse ontem à Folha que sua alternativa, no caso Banespa, é a seguinte: ou faz acordo para recuperar o banco, pagando prestação mensal de R$ 100 milhões ao governo federal, ou não faz acordo e aí teria que pagar R$ 500 milhões mensais.
Covas confirmou que seus negociadores chegaram a um acordo básico com os representantes do governo federal. Mas antes de assinar o protocolo de entendimento, Covas quer detalhar os números.
"O acordo é genérico e, para mandá-lo à Assembléia Legislativa, precisamos de números exatos", disse Covas.
Por esse acordo básico, o governo federal vai emprestar R$ 7,5 bilhões ao governo paulista e comprar a Fepasa e direitos de uso sobre os três principais aeroportos do Estado.
Todo o dinheiro recebido vai para o caixa do Banespa, amortizando-se a dívida de R$ 15 bilhões que o governo acumulou com o banco e que impede seu funcionamento normal. Capitalizado, o banco volta ao controle pleno do governo de São Paulo.
O governo paulista ficará então devendo ao governo federal aqueles R$ 7,5 bilhões. Pagará em prestações mensais iniciais de quase R$ 100 milhões, em 25 anos, a juros em torno de 6% ao ano. Os R$ 500 milhões a que se refere o governador seria a quantia mensal a ser paga com juros e prazos de mercado, sem qualquer acordo.
Em todo caso, o governador disse que tem pressa em assinar o acordo e quer resolver tudo antes que a intervenção do BC no Banespa complete um ano, o que aconteceria em 30 de dezembro.
Mas se aprecia o acordo, o governador não está gostando do que define como a repercussão na imprensa. "Parece que todo mundo tratou bem o Banespa, e só eu gasto para ficar com o banco".
"Todo mundo", para Covas, inclui os ex-governadores Luiz Antonio Fleury Filho e Orestes Quércia, considerados responsáveis pela dívida que o governo fez com o Banespa, e mais o Banco Central, considerado responsável por ter deixado a situação se deteriorar e por não ter feito nada para sanear o banco neste quase um ano de intervenção.
Observa o governador: "Deixaram-me a dívida e agora querem me cobrar por ela".
Covas continua se opondo à privatização do Banespa, tese defendida desde o início pelo Banco Central. Covas é contra por razões de princípio e práticas.
Acha que é impossível vender o Banespa, com o atual buraco. E sugere que, se aceitasse o caminho indicado pelo BC, "ficaria com a dívida e sem o banco".
Ou pior. Segundo Covas, o BC queria publicar um balanço do Banespa registrando patrimônio negativo. Nesse caso, se vendesse o Banespa, o governo paulista não receberia nada e ainda ficaria devendo para o comprador.
O governador diz ainda que o BC nunca lhe ofereceu as condições especiais que deu para o Unibanco comprar o Nacional. E completa: "Se me oferecessem as mesmas condições, eu venderia o Banespa. Mas para banco público, o BC não dá essas facilidades". Ninguém na diretoria do BC foi encontrado ontem para comentar a afirmação.
Mario Covas acha ainda que não há diferença essencial entre sua política e ao governador Marcello Alencar (PSDB), que está privatizando o Banerj. Segundo Covas, Alencar "também está vendendo patrimônio para pagar dívidas acumuladas pelo governo estadual".
Ou seja, o governo do Rio está vendendo o próprio Banerj. E o paulista está vendendo a Fepasa, a companhia de trens e linhas férreas, para ficar com o Banespa.

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