São Paulo, sábado, 16 de dezembro de 1995
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FHC teme desgaste se afastar Raytheon

MARTA SALOMON
ENVIADA ESPECIAL A XIAN (CHINA)

O presidente Fernando Henrique Cardoso teme que a credibilidade do Brasil no exterior fique abalada na hipótese de o governo vir a cancelar o contrato com a empresa norte-americana Raytheon no projeto Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia).
"Meu problema é a credibilidade do Brasil", afirmou FHC em Xian, antiga capital do império chinês. "Houve a seleção de uma empresa chamada Raytheon e tenho de ter algum argumento para explicar porque não será ela: senão não tem seriedade."
Anteontem, o Senado, depois de acordo com as lideranças governistas, decidiu exigir a anulação do contrato com a Raytheon e a promoção de uma concorrência pública para o Sivam.
O presidente informou que a decisão sobre a proposta de abrir uma licitação pública para a escolha de uma substituta da Raytheon só será tomada após a próxima quinta-feira -data prevista de seu retorno ao Brasil.
FHC insiste em manter o contrato com a empresa norte-americana, assinado em maio. O motivo apontado para não cancelá-lo é o mesmo apresentado desde o episódio da escuta telefônica que apontou indícios de tráfico de influência no projeto Sivam.
Segundo o presidente, falta um "argumento forte" para suspender o contrato. "Se tivesse surgido um, eu próprio já teria suspenso", disse, sustentando que o governo não pode "prejudicar" a Raytheon por causa das irregularidades na Esca (escolhida inicialmente para gerenciar o projeto), "essa sim, cheia de problemas."
"Se não houver um argumento ponderável, fica parecendo que o Brasil não toma muito a fundo os seus compromissos", avaliou o presidente.
Em qualquer hipótese, FHC aposta que seu governo não sairá abalado do caso: "Para o meu governo, nada é ruim porque esse contrato foi feito em governos anteriores."
A quase 20 mil quilômetros de distância do Brasil, o presidente disse que tem acompanhado diariamente, por telefone, a análise que o Senado faz do projeto Sivam. "Converso com muita gente, todos os dias", disse, citando líderes políticos, o vice Marco Maciel e o chefe da Casa Civil, Clóvis Carvalho.
Pelas informações que recebeu de seus interlocutores, FHC decidiu relevar a ameaça de crise na base de sustentação política do governo, que se julga abalada com o caso Sivam e o vazamento de registros de doações eleitorais contidos na pasta rosa.
"Não vejo que crise é esta não: não vejo razão para crise", disse.
Turismo de presidente
FHC teve um dia de turista ontem na China. Saiu cedo de Pequim em direção a Xian, que já foi a maior cidade do mundo no século 2º a.C.. A principal atração de Xian é o mausoléu do primeiro imperador da China, Qin Shi Huang.
Obcecado pela busca da imortalidade, Qin mandou construir um exército de guerreiros de terracota (argila modelada e cozida). Não há duas figuras iguais entre os 8 mil guerreiros.
Os guerreiros, em posição de combate, cuidariam da defesa do imperador após a sua morte. "Com dois anos de mandato, ele já estava cuidado do mausoléu", comentou o presidente, enquanto ouvia as explicações de um guia do governo chinês. As escavações arqueológicas prosseguem na região, em busca da tumba do imperador. No Museu de História de Xian, FHC conheceu relíquias das dinastias chinesas.

Como não há vôos comerciais regulares entre Pequim e várias cidades da China e da Malásia que o presidente Fernando Henrique Cardoso está visitando desde ontem, a Folha foi convidada e aceitou percorrer esses trechos no avião reserva da Presidência da República. Todas as outras despesas de transporte, hospedagem e comunicação correm por conta do jornal.

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