São Paulo, sábado, 16 de dezembro de 1995
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Contraproducente

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE

Só duas coisas, por enquanto, você encontra em qualquer esquina do planeta. Lanchonete do McDonald's e loja da Benetton.
Com a tal da globalização, porém, tudo estará ao nosso alcance. De chocolate a automóvel, qualquer produto poderá ser adquirido sem sair de casa. Esteja você em Vladivostok ou em Bofete.
Bacana, né? É. Só que pode chegar o momento em que você passará de ávido consumidor a desempregado.
No início deste século, Henry Ford inventou a produção em série. Mas provou ser um gênio mesmo inventando o consumidor. Ford aumentou o salário de seus empregados de US$ 1 para US$ 15 e assim eles mesmos poderiam comprar os carros que fabricavam.
Hoje em dia produto bom e barato significa uma linha de produção cada vez mais simplificada, projetos mundiais e toda essa papagaiada que os especialistas vendem sorrindo na TV.
Esses processos, no entanto, significam menos emprego, algo que em países como o Brasil, de pouca justiça social, tem um reflexo ainda mais vil.
Ninguém explicou ainda como percorrer o caminho inverso ao criado por Ford que, entre outras coisas, fez surgir a F-1.
Mas cessando o espasmo sociológico, enquanto existir consumidor existirá a publicidade. E em termos de marketing esportivo tudo o que aconteceu depois da entrada da Benetton na F-1 é variação sobre o mesmo tema.
Depois de uma década de competição, a equipe de Lucciano Benetton é campeã mundial. E, até outro dia, contava com o melhor piloto, Michael Schumacher.
Nesta semana, mais uma vez ficou provado que o alemão faz diferença. Na chuva, no Estoril, foi mais rápido com o ainda instável V10 da Ferrari. Alesi e Berger? Sexto e sétimo na quinta. Um dia antes, Berger se espatifou.
Já dizem que a equipe está perdida e que a programação de testes para janeiro e fevereiro está sendo reavaliada. E, na minha opinião, refazer um carro que foi feito à imagem e semelhança do alemão é muita areia para o caminhãozinho da ex-dupla ferrarista.
Ascensão e queda da Benetton? Não. Além de existir Briatore, a associação com a Renault deu um importante passo.
Em breve será lançado um Renault Twingo Benetton. E, pelo plano inicial, ele seria vendido nas lojas da marca italiana, ao lado dos agasalhos. É, ninguém segura a tal da globalização.

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