São Paulo, sábado, 16 de dezembro de 1995
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Natal solidário

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Natal vem se aproximando. Nesse tempo, as comunidades cristãs dedicam-se, especialmente, na oração em família, a preparar a vinda de Jesus Cristo. Pela abertura do coração a Deus podemos compreender melhor o seu desígnio de salvação e realizar, neste mundo, a sociedade solidária, sinal do reino de Deus.
Há enorme injustiça social. Mais de 1 bilhão de seres humanos vivem em condições de miséria, fome e enfermidades superáveis. A extrema pobreza é agravada pela violência silenciosa, que resulta do desrespeito à dignidade da pessoa humana e da omissão pecaminosa aos deveres da fraternidade cristã.
O que mais pesa é a iníqua distribuição de bens, destinados a todos pela vontade do criador. A progressiva concentração de renda nas mãos de poucos atinge hoje níveis elevados: os 20% mais ricos possuem 83% das riquezas e controlam 81% do comércio mundial.
Esse enorme desequilíbrio social coloca em questão o modelo de desenvolvimento neoliberal que vai sendo imposto à maioria dos países.
O Brasil não escapa a essa triste análise. Os ganhos institucionais não têm sido acompanhados por avanços sociais. Cresce o fenômeno da exclusão social. Continua a violação impune de direitos humanos. Paira sobre as populações indígenas a ameaça contra a demarcação de suas terras, contestada pelo pretenso direito de quem as ocupou indevidamente.
Tarda o Congresso em elaborar leis que agilizem o adequado uso das terras por agricultores desejosos de nelas trabalhar. O desemprego ronda como um pesadelo a classe operária.
Aumenta, a olhos vistos, a mendicância pelas ruas. Mais dolorosa é a constatação de crianças e adolescentes expostos a desmandos sexuais, à violência e ao aliciamento ao crime.
Países como o Chile e a Malásia, que possuem aproximadamente a mesma renda per capita do Brasil, conseguem melhor distribuição interna das riquezas. Serve de indicador a taxa de mortalidade infantil nos primeiros cinco anos de vida. Enquanto no Brasil a taxa é de 63 por mil, no Chile e Malásia não passa de 17.
Por que, neste tempo de preparação ao Natal, a lembrança de sofrimentos e injustiças? Tudo isso pode nos ajudar a um exame de consciência sincero e objetivo à luz do Evangelho.
O melhor modo de celebrarmos o nascimento de Jesus é o de assumirmos as exigências da fraternidade. Precisamos, assim, realizar o ideal de solidariedade cristã que há de se expressar de muitos modos.
Diante do presépio somos chamados a acolher com amor toda pessoa humana, a começar dos mais empobrecidos, descobrindo em cada situação as necessidades prementes espirituais e materiais de nossos irmãos.
Além dos gestos generosos de solidariedade pessoal, temos de somar -governo e sociedade organizada- para promover, com prioridade, os setores de saúde, educação e moradia, evitar as demissões de trabalho e multiplicar as oportunidades de emprego.
A oração destes dias há de nos auxiliar e inspirar, fazendo-nos compreender que acolher Jesus Cristo é ser solidário com nossos irmãos e procurar que todos tenham vida de filhos de Deus.
O Natal, assim, será muito feliz.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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