São Paulo, sábado, 16 de dezembro de 1995
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Tempo de equívocos

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - O governo está adotando uma estratégia temerária para se defender das suspeitas e acusações que surgem de todos os lados. Ele confia na eficácia da crise de amanhã, que tornará a crise de hoje irrelevante e sepultará a crise de ontem. Com uma crise a cada semana, cada qual mais virulenta, o governo vai levando.
Haveria alternativa para anular a escalada de crises: seria o trabalho. O trabalho concreto de uma administração. Foi assim que Juscelino superou a oposição política e as resistências militares contra o seu mandato. Insistindo em ser o maior prefeito do Brasil, terminou sendo um grande presidente.
A grande obra do governo, até agora, foi no estreito espaço de um Congresso que está aceitando mudar a Constituição que ainda não completou dez anos. Até mesmo essa tarefa, que seria natural ao longo do tempo, sem açodamentos e sem o custo fisiológico de praxe, até mesmo a grande cruzada pelas reformas entrou em ponto morto. Aproximando-se do primeiro ano de governo, nada, absolutamente, foi feito. Não se colocou um prego, não se levantou um muro, não se tapou um buraco nas estradas nem se criou um leito nos hospitais.
O governo prefere "pensar" o Brasil que pretende governar. Não aceita o país tal como ele é: na cartilha dos sociólogos, o país que eles preferem governar é a Suécia com a eficiência da Alemanha, a tenacidade do Japão, os recursos dos Estados Unidos e o passado da Grécia.
A seu favor, tem a estabilização da moeda -façanha do governo anterior e cujo preço, mais cedo ou mais tarde, cairá sobre a população. O frango barato e o chuchu a dez centavos o quilo provocaram o estouro do Nacional e do Econômico. Aparentemente, nada a ver com as calças.
Mas até mesmo a vitória contra a inflação não justifica os equívocos de um grupo que nada faz além de apagar incêndios com gasolina que ficou barata.

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