São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 1995
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as diolindas dos fazendeiros

CRISTINA ZAHAR

Não é privilégio dos sem-terra ter mulheres atuantes. Os fazendeiros da região do Pontal de Paranapanema também têm lá suas musas, que, às vezes, nem gostam de assumir o rótulo. Para elas, vestir a camisa da causa é mais importante.
As irmãs Maria Angélica, 34, e Teresa Cristina, 42, são filhas do fazendeiro Alcides Junqueira, dono de 300 alqueires (cada alqueire equivale a 24.200 m²) em Rosana, a 180 km de Presidente Prudente. Com o pai internado no hospital devido a uma malária contraída no Mato Grosso, as duas participaram da organização da passeata dos fazendeiros da região, em 27 de novembro último.
"Somos voluntárias. Ajudamos a decorar o palanque, a colocar faixas e a distribuir folhetos", diz Maria Angélica. "Fizemos isso por nosso pai, que veio de Barretos e se estabeleceu na região em 1945", emenda Teresa Cristina.
Mesmo casadas e com família para cuidar, as duas sempre arrumam tempo para ir à fazenda e auxiliar o pai, hoje com 70 anos. "Não somos contra a reforma agrária", explica Teresa Cristina. "Queremos uma solução para o problema tanto quanto os sem-terra."
O que as duas condenam, como de resto os fazendeiros, é a violência das invasões. "Na fazenda dos Kurata, em Mirante (640 km a oeste de São Paulo), destruíram tudo no final de agosto. Queimaram 1.800 alqueires de pasto. Era uma judiação ver o gado queimado pelo chão, os bezerros que não conseguiram fugir todos mortos", afirma Teresa Cristina.
A região, segundo as irmãs, tem passado por dificuldades. Dos 11 frigoríficos de Pontal, cinco já fecharam as portas por conta dos conflitos.
O fazendeiro Junqueira é um exemplo do que acontece por lá. Apesar de ter tido 100 alqueires desapropriados pelo governo Montoro, em meados dos anos 80, Junqueira diz não ter recebido um centavo do governo. Nem por isso se recusou a doar suas terras, declara, até mesmo aquelas onde se encontravam todas as benfeitorias de sua fazenda.
"Comprei essas terras em 1958, tenho escritura. Se o governo precisar de um pedaço de terra, deve pagar por isso."
Outra afirmação que irrita os Junqueira é de que as terras sejam improdutivas. "A região é a maior produtora de gado de corte do Estado de São Paulo", diz Maria Angélica. "A imprensa fotografa o pasto e diz que é mato", defende-se Alcides.

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