São Paulo, quinta-feira, 21 de dezembro de 1995
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Diretoria do BC afasta demissão coletiva

CARLOS ALBERTO SARDENBERG

CARLOS ALBERTO SARDENBERG; CARI RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

A atual diretoria do Banco Central e, em especial, seu presidente, Gustavo Loyola, têm como meta concluir cinco tarefas antes de tratar de eventuais demissões.
Essas tarefas são: fechar o acordo de saneamento do Banespa; vender o Econômico e o Mercantil de Pernambuco; consolidar o programa de estímulo às fusões bancárias; apresentar a programação monetária de 1996; e um plano de reestruturação do próprio BC.
Isso feito, um ciclo estará completo. E pelo menos no caso de Loyola, estará na hora de ir para casa. Isso deve acontecer não antes de janeiro nem após março.
Não há hipótese de demissão coletiva. Os diretores foram nomeados em diferentes épocas e circunstâncias, tendo, portanto, diferentes relações de fidelidade.
Quando Loyola chegou ao BC, todos os atuais diretores já estavam lá. Em resumo, existe na diretoria do BC o sentimento de que largar tudo agora seria desgastante sob todos os pontos de vista. Além de um fracasso profissional, seria um péssimo serviço prestado ao governo FHC, apoiado por todos.
Por outro lado, diretores entendem que a crise resultante da intervenção no Econômico provocou tanto desgaste que, mais cedo ou mais tarde, exigirá mudanças.
Embora a parte mais visível da crise seja o tiroteio do PFL, a mais importante está no relacionamento do BC com o Palácio do Planalto. Assessores próximos de FHC entendem que o BC e Loyola, em particular, não prestaram a devida sustentação ao presidente no caso do Econômico nos dias seguintes à intervenção, em agosto.
O maior erro teria sido não mostrar ao presidente, logo de início, que era inviável a proposta de salvamento do Econômico, preparada então pelo economista Daniel Dantas e bancada pelo senador Antônio Carlos Magalhães.
O BC admitiu estudar a proposta, o que foi interpretado pelo presidente como um sinal de viabilidade. FHC passou a conclusão a ACM, que considerou tudo resolvido e assim divulgou.
Quando o BC finalmente mostrou que a proposta era absurda, FHC sofreu um duplo desgaste: por ter admitido a proposta e, depois, por precisar voltar atrás.
O bom momento para uma nova mexida na diretoria do BC seria quando estivessem resolvidos os assuntos mais quentes, inclusive a venda do Econômico, que acalmaria bastante o PFL.
Ontem, Loyola negou que tivesse pedido para deixar o cargo. "Eu não cogitei pedir demissão, mas minha permanência não depende somente da minha vontade".
Ele voltou a negar o envolvimento da diretoria do BC no vazamento da pasta rosa. Disse que a pasta ficou cinco anos -desde 1990- "morcegando por aí". "Não sei quantas cópias foram tiradas." O vazamento do conteúdo da pasta pelo BC seria o mesmo que "dar um tiro no pé", disse.

Colaborou CARI RODRIGUES, da Sucursal de Brasília

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