São Paulo, quinta-feira, 21 de dezembro de 1995
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Boi cai 33%, mas consumidor paga só 9% menos

EDUARDO BELO
DA REPORTAGEM LOCAL

A queda no preço do boi gordo não chegou inteira ao consumidor. Enquanto a cotação da arroba caiu 33,33% de dezembro de 1994 até a semana passada, os preços no varejo de São Paulo recuaram só 9,2%, em média.
No meio do caminho, o atacado (frigorífico) baixou seus preços em 25,82% (veja quadro ao lado).
Os números, baseados em pesquisa da Fipe e nas cotações do Sindicato Nacional dos Pecuaristas de Gado de Corte (Sindipec), constam de estudo elaborado pelo pecuarista e consultor Sylvio Lazzarini.
Vice-presidente do Sindipec, Lazzarini aponta a falta de concorrência no varejo como fator de maior peso nessa distorção. Segundo ele, os principais responsáveis são os supermercados.
A informação é confirmada pelo economista Heron do Carmo, coordenador da Fipe. Nos açougues, os preços são menores que nos supermercados.
"O pessoal não vai baixar os preços nesta época, porque o consumo está forte", afirma Lazzarini. "Nos últimos 40 dias, a arroba caiu de R$ 27 para R$ 21 e o preço da carne não se mexeu".
A explicação é simples, diz Firmino Rodrigues Alves, vice-presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas):
"Antes do Real, nós vendíamos abaixo do custo e ganhávamos dinheiro no mercado financeiro. Isso acabou. Agora temos que ganhar com no lucro operacional", diz. "É só ver quanto custa a carne e por quanto a gente vende".
Segundo ele, antes de fixar o preço, o varejo tem de calcular a perda que a carne sofre com osso e sebo. "No fim, a gente só aproveita 40% do boi".
Os custos com frete, mão-de-obra e energia subiram, reclama Manuel Henrique Farias Ramos, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Carne do Estado de São Paulo.
"A carne representa só 40% do boi. Se a arroba cai 15%, a carne não vai cair 15%. Não cabe a ninguém dizer o que o comerciante deve fazer", afirma.
Ramos diz, sem citar nomes, que alguns frigoríficos nem repassaram a queda.
Segundo ele, a pecuária estaria "incomodada" com os supermercados, que trabalham com altas margens de lucro.
Não há grande diferença no preço do supermercado e dos açougues, rebate Rodrigues Alves. Segundo ele, o lucro das grandes redes com carne é de em média 10%. "Se for uma venda normal, com nota fiscal, o açougue não vende mais barato que o supermercado", afirma.
Para Vasco Carvalho Oliveira, presidente do Sindicato da Indústria de Frigoríficos, o problema é que as variações de preço no varejo são mais lentas, porque o setor não trabalha com margens fixas e procura não mexer nas tabelas.
Ele acredita que o comércio vai aos poucos repassar a diferença ao consumidor. A concorrência com carnes mais baratas, como as de ave, tornará isso inevitável.

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