São Paulo, quinta-feira, 21 de dezembro de 1995
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Procura-se o FHC inteligente

LUÍS NASSIF

Perdeu-se um presidente inteligente. Pede-se a quem encontrá-lo o favor de remetê-lo com a máxima urgência para a China, para que possa substituir o presidente vaidoso que foi em seu lugar.
O país não merece que um presidente da República bata boca com um ex-presidente em cima de bobagens tão ostensivas. Governar com ajuda de Deus, sem ajuda de Deus, ironias para cá, para lá. Onde estamos?
Será que, de tanto administrar Itamar, o grande intelectual FHC absorveu por completo seu estilo? Nos últimos tempos, cada frase de FHC gera uma crise política. FHC produz discursos memoráveis para estrangeiros e mesquinharias inacreditáveis para o público interno.
O presidente vive uma situação conhecida -mas que precisa urgentemente ser superada. Assumiu prometendo que o FHC inteligente seria predominante sobre o vaidoso. No dia-a-dia, as primeiras vitórias conquistadas produziram um sentimento de onipotência que ele não conseguiu controlar.
A cada dia que passa, sua auto-estima vai se esboroando, ao peso das dificuldades na condução das articulações políticas e da crise que se abateu sobre todo o país. Apenas os muito estúpidos ainda consideram que a política de juros salvou o país do caos.
Esse embate com a realidade produz dois movimentos. Um -o que afeta o presidente agora-, de puro escapismo, de considerar toda crítica como fruto de ressentimento. E de tomar-se de um sebastianismo inacreditável.
Todo dia, os grandes engenheiros dessa política de juros chegam ao presidente e sussurram: "Basta segurar um pouquinho mais, que o país estará definitivamente salvo". E o grande intelectual despe-se do espírito crítico, da noção de processo, e acredita piamente que a inércia conduzirá ao céu.
O segundo sentimento é o de debruçar-se friamente sobre o problema e enfrentá-lo. Como o FHC inteligente não morreu, logo vai se dar conta da necessidade de formular uma estratégia para a crise e de parar de se meter nesses bate-bocas de comadre.
Espera-se apenas que não demore muito. O que era mera desarticulação gerencial começa a se tornar fogueira crepitante, impulsionada por vento e papo furado.
Embaixador
O embaixador americano no Brasil é pessoa de alto nível. É diplomata sensível, com boa percepção sobre os problemas nacionais.
Por isso mesmo, é incompreensível que manifeste opinião sobre como o Congresso deve se comportar em relação ao Sivam. Vai conseguir apenas levantar o Congresso em brios e despertar sentimentos antiamericanos -fundados, aliás, em boa lógica.
O governo dos EUA, que pressiona pelo Sivam, não é capaz de adquirir aviões brasileiros, sobretaxa as exportações do país e impõe outras práticas protecionistas.

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