São Paulo, quinta-feira, 21 de dezembro de 1995
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Schlesinger corre para o Sol

MARCELO REZENDE
DA REDAÇÃO

Realizado como uma espécie de hino ao desajuste, "Perdidos na Noite" (Telecine, 15h) marca o momento em que o cinema do inglês John Schlesinger encontra de forma violenta a cidade de Nova York.
Não a Nova York geralmente mostrada no cinema, vista sempre como uma vitória do homem sobre a natureza, com seus arranha-céus e demonstrações brutais de grandeza.
O espaço e os personagens de que Schlesinger trata são menores. Tudo se reduz ao espaço da rua 42, a zona das casas de pornografia onde um jovem do interior -Joh Voight- acredita que pode ganhar a vida vendendo seu corpo para mulheres infelizes.
O mesmo cenário onde Ratso, interpretado de forma soberba por Dustin Hoffman, vive de pequenos golpes sonhando com um lugar onde possa encontrar o sol, e assim fugir da chuva constante da cidade.
"Perdidos na Noite" é montado na relação entre esses dois seres e o lugar onde habitam. Há no filme um ranço de exagero típico do início dos anos 70, com um certo desejo explícito em tentar capturar no cinema tudo que acontecia no mundo naqueles anos, com tomadas que mimetizam experiências psicodélicas.
Depois de "Perdidos", Schlesinger raramente voltaria a fazer filmes com tanta força, se tornando um diretor reconhecido apenas por sua obra realizada no passado, e condenado a trabalhar sem possibilidade de futuro.
Um pouco como os personagens desse seu filme, Schlesinger também preferiu se manter ao lado do desajuste, suportando os equívocos de alguns de seus filmes a uma carreira de puro conforto em Hollywood. O espaço ensolarado que parece nunca ter entendido muito bem o seu cinema.

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